
Um estudo científico publicado na revista Aggression and Violent Behavior analisou dezenas de pesquisas e chegou a conclusões importantes sobre crimes com facas: quem os comete, por quê, e o que, segundo os dados, realmente funciona para evitá-los. O trabalho é uma revisão sistemática, ou seja, reúne e avalia criticamente o que há de mais sólido na literatura científica sobre o tema.
O Perfil do Agressor com Faca
De acordo com os autores, não há um único tipo de criminoso com faca. Porém, alguns padrões chamam atenção:
- A maioria dos casos envolve homens jovens, entre o fim da adolescência e o início da vida adulta, especialmente em contextos de rua.
- Já as mulheres aparecem com mais frequência em casos de violência doméstica, utilizando facas em brigas com parceiros ou familiares.
- Os fatores mais associados à criminalidade com facas são: uso de drogas ilícitas, histórico de violência (tanto como vítima quanto como testemunha ou agressor), e problemas de saúde mental, como transtornos psicóticos, ansiedade, automutilação e baixa autoestima.
- Também se destacam condições socioeconômicas precárias, como pobreza, instabilidade familiar e mudanças frequentes de residência.
O estudo destaca que nem todo portador de faca se envolve diretamente em agressões. Muitos carregam o objeto por medo ou sensação de vulnerabilidade. Os autores também identificam diferenças entre os que participam de gangues — mais expostos à pobreza e violência estrutural — e aqueles que atuam de forma mais isolada, muitas vezes marcados por traumas pessoais.
O que Funciona – e o que Não Funciona, segundo o estudo
Segundo os autores da revisão, as abordagens mais comuns de prevenção primária — como revistas policiais (stop and search), campanhas educativas, entrega voluntária de facas e toque de recolher — não demonstraram eficácia real na redução do crime com armas brancas. Os estudos que avaliaram essas estratégias, ainda que com diferentes graus de qualidade, apresentaram resultados inconsistentes ou nulos.
Além disso, a presença constante de policiais em escolas foi associada a um aumento nos casos relatados de porte de faca, em dois estudos analisados. Embora não se possa afirmar com certeza que a presença policial causa esse aumento, os autores apontam que esse tipo de política pode ser contraproducente, especialmente quando aplicada de forma genérica e sem foco em necessidades reais dos jovens.
Em contraste, a única intervenção que apresentou resultados consistentes e positivos foi um programa comunitário realizado em Glasgow, Escócia, voltado para jovens já envolvidos com crimes e gangues. Nessa iniciativa, os participantes se comprometeram a abandonar o porte de armas em troca de acesso individualizado a apoio em educação, habitação, emprego e desenvolvimento pessoal. O programa teve reduções de até 82% no porte de facas entre os participantes, com desempenho bem superior ao de um grupo semelhante que não recebeu a intervenção. No entanto, os próprios autores reforçam que os resultados, embora promissores, precisam ser confirmados por novas pesquisas.
Conclusão
O estudo deixa claro que soluções genéricas e repressivas não bastam. Para reduzir os crimes com facas, é necessário entender quem são os envolvidos, quais suas motivações e vulnerabilidades, e agir sobre essas causas. O caminho apontado pelos autores é claro: intervenções personalizadas, com suporte real ao indivíduo, têm muito mais chance de funcionar do que medidas amplas e punitivas.
Nota do Instituto DEFESA: É importante adicionar ainda que boa parcela dos cidadãos inteligentes carregam facas no dia a dia, tanto como instrumento de defesa como ferramentas. É razoável deduzir que esses cidadãos passam despercebidos pela maioria das estatísticas mesmo quando são forçados a utilizar suas facas para se defender. O Instituto DEFESA encoraja o porte de facas e armas de fogo por todo cidadão justo.
📚 Esta publicação resume os achados do estudo científico “Knife crime offender characteristics and interventions – A systematic review”, publicado na revista Aggression and Violent Behavior (volume 67, 2022). Os resultados apresentados são de responsabilidade dos autores do estudo.
👉 https://doi.org/10.1016/j.avb.2022.101774