
Desde 2023, o Brasil tem assistido a um retrocesso preocupante nos indicadores de corrupção e governança. O período marcado pela volta de Lula ao poder, associado ao ativismo político do Supremo Tribunal Federal (STF), não apenas deteriorou a percepção internacional sobre o país, mas também reacendeu velhos fantasmas de impunidade, loteamento político e aparelhamento do Estado.
O Índice de Percepção da Corrupção (CPI), da Transparência Internacional, é um dos termômetros mais reconhecidos globalmente sobre esse tema. Em 2022, o Brasil havia alcançado 38 pontos em uma escala de 0 a 100, patamar ainda baixo, mas superior ao observado nos anos anteriores. Em 2023, entretanto, o país caiu para 36 pontos, representando a pior queda desde 2017.
Essa queda não foi apenas estatística. Ela expressa o desmonte de mecanismos de combate à corrupção criados em governos anteriores, como a Lava Jato, que já havia sido desarticulada, mas cuja extinção definitiva coincidiu com a retomada de um ambiente mais permissivo para práticas ilícitas.
Enquanto países latino-americanos como Chile e Uruguai conseguiram melhorar ou manter bons índices de percepção da corrupção, o Brasil trilhou caminho inverso. Essa comparação internacional reforça que a piora não decorre de uma tendência regional, mas sim de escolhas políticas internas.
A confiança da população brasileira nas instituições também sofreu um abalo severo. Pesquisas recentes mostram que 59,1% dos brasileiros têm pouca ou nenhuma confiança no sistema de justiça, e 90,1% acreditam que políticos raramente ou nunca são punidos por corrupção. Esses números evidenciam um ceticismo generalizado em relação à governança no país.
Comparado ao período de 2019 a 2022, durante o governo Bolsonaro, observa-se uma diferença marcante. Embora o Brasil nunca tenha sido exemplo de integridade institucional, houve naquele período uma percepção de maior rigor contra crimes de corrupção, ainda que com limitações. O movimento atual é o oposto: a normalização da impunidade.
O aparelhamento das estatais é outro indicador da deterioração. Em 2024, as empresas públicas federais registraram prejuízos acumulados de R$ 6,7 bilhões, o maior rombo em mais de duas décadas. Esse resultado está diretamente ligado à gestão política e à falta de governança corporativa eficaz.

A prática do loteamento de cargos públicos voltou a ser regra. Ministérios e empresas estatais tornaram-se moedas de troca política, revertendo esforços anteriores de profissionalização da administração pública. O resultado é o enfraquecimento da meritocracia e a proliferação de quadros escolhidos não pela competência, mas pela lealdade partidária.
A corrupção, nesse contexto, deixa de ser apenas um problema ético e passa a ser um entrave direto ao desenvolvimento econômico. Investidores internacionais têm reiteradamente colocado a instabilidade institucional e a falta de segurança jurídica como fatores que reduzem o apetite para aportar capital no Brasil.
Essa percepção é agravada quando comparada com outras economias emergentes. Países como Índia e Indonésia, embora ainda lidem com corrupção, têm avançado em governança, criando ambientes mais atrativos para negócios. O Brasil, por outro lado, retrocede.
O impacto sobre a sociedade também é brutal. Recursos que poderiam ser aplicados em saúde, educação ou segurança acabam drenados por esquemas de corrupção ou má gestão. A população, já sobrecarregada por impostos, sente que financia privilégios e desvios, sem retorno em serviços públicos de qualidade.
Do ponto de vista internacional, o Brasil voltou a figurar como exemplo negativo em relatórios sobre integridade. Organismos como a OCDE apontam que a falta de accountability e de reformas estruturais coloca o país em desvantagem frente a seus pares.
Esse movimento também reforça um ciclo vicioso: quanto maior a percepção de corrupção, menor a confiança social e institucional; e quanto menor essa confiança, maior a facilidade para práticas corruptas prosperarem sem reação efetiva.
O enfraquecimento das instituições de fiscalização é outro fator determinante. Órgãos que deveriam atuar de forma independente, como a Polícia Federal e o Ministério Público, passaram a sofrer pressões políticas mais intensas, reduzindo sua autonomia de ação.
O STF, por sua vez, transformou-se em ator político, interferindo não apenas em questões constitucionais, mas também em disputas de poder e interesses partidários. Esse ativismo judicial, longe de fortalecer a governança, mina a confiança no equilíbrio entre os Poderes.
Os efeitos desse cenário já aparecem nos rankings internacionais. O Brasil caiu posições tanto em indicadores de integridade governamental quanto de direitos de propriedade, fatores diretamente ligados ao ambiente de negócios e à liberdade econômica.
No campo político, a reabilitação de figuras condenadas por corrupção, com base em manobras processuais, contribuiu para reforçar a percepção de que o sistema de justiça age de forma seletiva e partidária. Essa seletividade é corrosiva para a democracia e para a legitimidade das instituições.
Enquanto isso, a sociedade civil organizada, que poderia ser um contrapeso, encontra-se enfraquecida por restrições à liberdade de expressão e pela perseguição a vozes críticas. O espaço público é ocupado por narrativas oficiais, enquanto denúncias de corrupção perdem visibilidade.
Se não houver uma reversão desse processo, o Brasil corre o risco de consolidar um regime em que a corrupção é parte estrutural do sistema de poder. Isso não apenas comprometerá o crescimento econômico, mas também corroerá a própria coesão social.
Em síntese, entre 2023 e 2025, a corrupção e a má governança no Brasil pioraram em comparação a períodos anteriores e em contraste com o resto do mundo. O país voltou a ser visto como um terreno fértil para práticas ilícitas, marcado pela impunidade e pela fragilidade institucional, um retrocesso que compromete não só o presente, mas também as perspectivas de futuro.
Referências
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2024). Contas Nacionais Trimestrais: Indicadores de 2023. Rio de Janeiro: IBGE.
Metropoles. (2024, 1º de março). Taxas de investimento e de poupança caem em 2023 no Brasil.
Poder360. (2024, 1º de março). PIB do Brasil cai em termos de investimento e poupança em 2023.
Transparência Internacional. (2023). Corruption Perceptions Index 2023. Berlin: Transparency International.
Transparência Internacional. (2024). Corruption Perceptions Index 2024. Berlin: Transparency International.
Transparência Internacional. (2025). Corruption Perceptions Index 2025. Berlin: Transparency International.
Fundação Getulio Vargas. (2023). Recuperação do mercado de trabalho nas regiões brasileiras perde fôlego no início de 2023. FGV IBRE.
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. (2023). OECD Integrity Review: Brazil. Paris: OECD Publishing.
Banco Mundial. (2024). Governance Indicators: Worldwide Governance Indicators (WGI). Washington, DC: World Bank.
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