
Desde que existem exércitos organizados, uma pergunta atravessa a história: a quem eles servem? Ao povo, de quem teoricamente emanaria o poder, ou ao governo que os remunera e lhes garante privilégios? A resposta prática, observada repetidamente, mostra que os militares quase sempre se mantêm fiéis ao regime que lhes paga, mesmo que isso signifique esmagar as aspirações de liberdade popular.
A história recente do Nepal ilustra isso com clareza. Em 2025, milhares de cidadãos revoltaram-se contra a crescente tirania comunista, invadindo prédios públicos e pedindo mudanças profundas. A reação das forças armadas foi imediata: soldados foram mobilizados não para proteger o povo, mas para defender os palácios do governo. O sangue derramado nas ruas foi a prova concreta de que os militares permaneceram fiéis à máquina estatal, mesmo diante de um levante popular legítimo.
Esse fenômeno não é isolado. Pelo contrário, repete-se de forma quase mecânica sempre que a população se levanta contra governos autoritários. Os militares, mais do que qualquer outra instituição, têm sua sobrevivência atrelada ao Estado, e não à liberdade.
Um exemplo brutal ocorreu na China, em 1989, quando estudantes e trabalhadores ocuparam a Praça da Paz Celestial exigindo reformas democráticas. Durante semanas, milhões de chineses acreditaram que poderiam mudar o país pela força da mobilização popular. Mas na noite de 3 para 4 de junho, tanques e soldados do Exército de Libertação Popular avançaram contra civis desarmados. Centenas, talvez milhares, foram massacrados. A ordem de Deng Xiaoping foi cumprida com disciplina militar: garantir a sobrevivência da ditadura, custasse o que custasse.
O caso chinês é emblemático porque mostrou que os militares não hesitam em voltar suas armas contra os próprios cidadãos, se isso for necessário para a manutenção do regime. Não importam os discursos de “defesa da pátria”: a pátria real, o povo, foi esmagada sob esteiras de tanques.
Situação semelhante ocorre há décadas em Cuba. Desde a revolução de 1959, os militares se tornaram guardiões do Partido Comunista. Cada vez que a fome ou a repressão levaram o povo às ruas, como no Maleconazo de 1994 ou nas manifestações de 2021, as forças armadas reagiram com violência. Enquanto crianças passavam fome e famílias se arriscavam em balsas precárias para fugir da ilha, os militares permaneciam bem alimentados, privilegiados, e dispostos a prender ou matar em nome da ditadura.
Na Coreia do Norte, esse pacto entre farda e regime é ainda mais evidente. Lá, o Exército não é apenas um instrumento: é a base sobre a qual o regime dos Kim construiu seu poder. Durante a fome devastadora dos anos 1990, quando milhões de norte-coreanos morreram, os militares receberam comida prioritária. Enquanto o povo definhava, as tropas continuavam fortes, garantindo que nenhuma rebelião tivesse chance. Ainda hoje, qualquer protesto, por menor que seja, é reprimido com brutalidade.
Na Venezuela, o mesmo padrão se repetiu. A partir de 2014, milhões de venezuelanos foram às ruas protestar contra a ditadura de Nicolás Maduro. Enfrentaram escassez de alimentos, colapso hospitalar e inflação inimaginável. O que fez o Exército? Ao invés de se somar ao povo, blindou o regime. Em troca de privilégios, altos oficiais foram comprados com cargos e acesso a esquemas de corrupção, enquanto soldados eram usados para dispersar manifestações, prender opositores e atirar em manifestantes desarmados.
A força popular, por maior que fosse, esbarrava na muralha dos quartéis. E assim, uma ditadura fracassada em termos econômicos manteve-se viva apenas pela fidelidade das armas.
Outro caso recente e sangrento ocorreu em Myanmar (antiga Birmânia). Em 2021, após eleições democráticas que deram vitória esmagadora à Liga Nacional pela Democracia, os militares simplesmente decidiram não aceitar o resultado. Promoveram um golpe de Estado, prenderam Aung San Suu Kyi e tomaram o poder. A reação popular foi imediata: multidões nas ruas exigindo respeito às urnas. O que se seguiu foi um banho de sangue. Centenas de civis foram mortos, milhares presos. Mais uma vez, os militares garantiram a ditadura.
No Chile, entre 1973 e 1990, o regime de Augusto Pinochet também demonstrou o papel das forças armadas na sustentação de governos autoritários. Mesmo nos anos 1980, quando o povo chileno começou a organizar grandes manifestações pedindo democracia, o Exército reprimiu com dureza. Prisões, torturas e mortes se tornaram rotina. Só quando a própria cúpula militar decidiu que era hora de uma transição controlada é que o regime cedeu, mas nunca porque os militares abandonaram seu posto de protetores do ditador.
Esses casos mostram um padrão inequívoco: sempre que o povo e o governo entram em conflito direto, os militares optam pelo lado de quem assina seus contracheques. A lealdade não é à Constituição, nem à liberdade, nem ao cidadão comum. A lealdade é ao poder que paga os salários e garante os privilégios.
Isso desmonta a visão romântica de que os exércitos nacionais servem como último bastião da liberdade popular. A prática histórica revela o contrário: eles são, quase sempre, o último bastião da tirania.
O exemplo do Nepal deixa claro que mesmo em países onde a repressão parecia mais frágil, os militares não hesitam em usar a força contra quem se levanta. A lição é universal: não se pode esperar que fardas defendam a liberdade.
A China mostrou como tanques podem ser usados contra jovens com flores nas mãos.
Cuba mostrou como soldados podem prender cidadãos famintos que apenas pediam comida.
A Coreia do Norte mostrou como militares podem assistir a milhões morrerem de fome, enquanto defendem o ditador.
A Venezuela mostrou como quartéis podem manter um tirano no poder em troca de privilégios.
Myanmar mostrou como fuzis podem calar a vontade expressa nas urnas.
O Chile mostrou como uma ditadura pode se estender por quase duas décadas graças às baionetas.
E o Brasil contemporâneo também oferece um exemplo que não pode ser ignorado. Durante as eleições de 2022 e o período subsequente, milhares de cidadãos protestaram contra a condução do processo eleitoral. Muitos eram idosos, mulheres, pais e mães de família. A resposta institucional não foi de diálogo, mas de repressão. O Exército Brasileiro, longe de se colocar como garantidor da liberdade de manifestação, cumpriu ordens que resultaram em prisões, intimidações e no sufocamento da voz popular.
Discretamente, mas de maneira inequívoca, mostrou-se que a lógica é a mesma de tantos outros países: os militares sempre vão proteger quem paga os seus salários.
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