
Baseado no estudo: Lott, J.R. & Moody, C.E. (2024). How Does Concealed Carrying of Weapons Affect Violent Crime? SSRN.
À medida que o debate sobre o acesso às armas de fogo continua a dividir opiniões, torna-se cada vez mais necessário basear políticas públicas em dados empíricos, e não em impressões ideológicas ou narrativas midiáticas. Nesse contexto, o novo estudo dos pesquisadores John R. Lott e Carlisle E. Moody, revisado em abril de 2024, traz uma contribuição essencial ao discutir o impacto do porte velado de armas por civis legalmente autorizados sobre a criminalidade violenta.
A Hipótese: Mais Armas = Mais Crimes?
Diversos estudos e veículos de imprensa alegam que o aumento no número de permissões para porte de arma está ligado ao crescimento da criminalidade violenta. Alguns chegam a afirmar que cidadãos armados legalmente seriam fonte de armas para o crime, ao terem suas armas furtadas. Outros dizem que a presença de civis armados limitaria a eficácia das forças policiais.
O estudo de Lott e Moody foi um dos primeiros a medir diretamente o impacto do número de permissões de porte (e não apenas da existência da lei) sobre dois indicadores:
- A quantidade de armas roubadas por 100 mil habitantes, e
- A efetividade policial, medida pela taxa de resolução de crimes violentos (como homicídios, estupros, roubos e agressões).
A base de dados usada é única, combinando estatísticas do FBI, do Crime Prevention Research Center e de órgãos estaduais norte-americanos. Os modelos aplicados controlam variáveis como o número de policiais por habitante, nível de renda, idade, etnia e taxas gerais de criminalidade.
Resultados: Mitos Derrubados
1. Armas Roubadas
Os autores encontraram coeficientes estatisticamente nulos entre o número de permissões de porte e o número de armas roubadas, mesmo ao controlar variáveis como taxa de arrombamentos, renda e prevalência geral de armas. Ou seja, cidadãos armados legalmente não contribuem de forma significativa para o mercado ilegal de armas. Isso derruba o argumento de que o aumento no porte legal resultaria em mais armas nas mãos de criminosos.
2. Efetividade Policial
Outro argumento recorrente é que a população armada limitaria o trabalho da polícia. No entanto, os dados mostram o contrário: não há qualquer evidência de que a atuação da polícia seja prejudicada pela presença de cidadãos legalmente armados. A taxa de resolução de crimes permanece estatisticamente inalterada. Em algumas categorias, como agressões, houve até uma leve melhora quando considerado o número de permissões por habitante.
Além disso, estudos anteriores com policiais norte-americanos indicam que mais de 75% dos agentes acreditam que cidadãos armados ajudam a combater o crime. Os dados, portanto, confirmam o que os profissionais da linha de frente já sabem na prática: a presença de cidadãos armados, dentro da lei, pode ser um aliado na segurança pública — não um obstáculo.
Reflexões Finais
Em tempos de polarização política e emocionalismo em torno do tema das armas, o estudo de Lott e Moody oferece um antídoto necessário: análise fria, empírica e baseada em dados concretos. A pesquisa demonstra que o porte velado de armas, quando regulamentado, não aumenta os roubos de armas nem prejudica a polícia — dois dos principais argumentos usados contra o direito de portar armas.
Este trabalho, ainda restrito ao contexto norte-americano, é especialmente relevante para o Brasil. À medida que enfrentamos retrocessos recentes no direito ao porte de armas e observamos o crescimento da violência urbana, a experiência internacional pode — e deve — servir de base para políticas públicas sérias, eficazes e comprometidas com a liberdade e a segurança do cidadão.
📚 Leia o estudo completo (em inglês):
How Does Concealed Carrying of Weapons Affect Violent Crime?
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