
O Brasil assiste, mais uma vez, a um velho roteiro sendo encenado com maestria: uma tragédia com forte apelo emocional ocorre — como a queda de um balão em Santa Catarina ou a morte de uma brasileira ao escalar um vulcão no exterior — e imediatamente se inicia uma operação coordenada entre a mídia sensacionalista e os políticos oportunistas. O fato, isolado, muitas vezes fruto de escolhas pessoais e riscos assumidos voluntariamente, é retirado do seu contexto e elevado à categoria de “urgência nacional”. Cria-se a impressão de que, se algo não for feito, imediatamente, todos estaremos ameaçados. Talvez você já tenha visto isso acontecer com o tema armas, não:
Essas tragédias, por mais dolorosas que sejam para os envolvidos, são apresentadas não como o que realmente são — exceções em atividades naturalmente arriscadas —, mas como sintomas de um suposto descontrole generalizado. O objetivo não é informar nem promover reflexão, mas gerar comoção. E a comoção, por sua vez, pavimenta o caminho para a aceitação de medidas políticas que jamais seriam toleradas em momentos de racionalidade. É um teatro do medo, montado em tempo real com base em manchetes, entrevistas selecionadas e imagens repetidas à exaustão.
1. O primeiro ato: espalhar o terror

O caso do balão em SC foi tratado como se representasse uma falência total da atividade turística aérea no Brasil. As manchetes destacavam o desespero, os gritos, o sangue, o pânico. Relatos de testemunhas traumatizadas foram explorados ao máximo, criando a sensação de que voar de balão é uma roleta russa. Nenhuma estatística foi apresentada para mostrar a raridade do evento, nem tampouco se discutiu a responsabilidade direta dos organizadores ou das vítimas. A narrativa foi inteiramente construída para transmitir a ideia de um perigo coletivo iminente.
No caso da brasileira morta no vulcão, a narrativa foi ainda mais insidiosa: o foco não estava apenas na tragédia pessoal, mas na suposta “falta de apoio do governo” ao traslado do corpo. Sem entrar no mérito da responsabilidade individual envolvida em fazer esportes extremos no exterior, a matéria lançou a dúvida: não seria o Estado obrigado a intervir? Em ambos os casos, insinua-se que há uma ausência de controle, de regulação, de proteção — como se a liberdade de escolher correr riscos fosse um erro que precisa ser corrigido por decreto.
2. O segundo ato: apontar o culpado — o ‘vácuo regulatório’

Logo após a veiculação dessas notícias, surgem as análises “técnicas” nos programas de TV, com especialistas convidados que repetem o mesmo bordão: “falta regulação”. Não importa se o setor já tem normas, se há fiscalização em andamento, ou se o evento foi uma fatalidade. A narrativa é sempre construída para apontar uma falha do sistema — e, por consequência, justificar a necessidade de mais Estado. É uma resposta automática, irrefletida, mas eficaz: encontrar um culpado difuso, como “a ausência de regras claras”.
Essa fase do processo midiático-político é crucial porque prepara o terreno para a próxima etapa. Uma vez instaurada a sensação de que “algo precisa ser feito”, a população, já emocionalmente abalada, passa a aceitar a ideia de que mais burocracia, mais formulários, mais exigências e mais taxas são soluções razoáveis. O foco se afasta da responsabilidade individual e migra para uma suposta “falha sistêmica”, como se fosse possível eliminar todo risco da vida por meio de canetadas. O terror se transforma, então, em oportunidade de arrecadação.
3. O terceiro ato: a solução estatal mágica — paga, é claro

É nesse momento que o político entra em cena. Com pose de estadista, ele anuncia a criação de um novo projeto de lei, uma nova secretaria, uma nova exigência de licenciamento, sempre acompanhada de um novo custo. No caso do balão, pode surgir uma proposta de curso obrigatório para turistas, selo de segurança pago por empresas, ou uma nova taxa de vistoria. No caso do alpinismo no exterior, talvez surja a exigência de cadastro prévio junto a algum órgão governamental, com pagamento de tarifa para “emergências”.
Essas propostas nunca resolvem o problema original. Elas apenas criam estruturas burocráticas que drenam recursos da população e geram empregos para apaniguados do poder. O foco nunca está em educação, preparação ou liberdade com responsabilidade. Pelo contrário: o objetivo é ampliar o controle e abrir novas fontes de receita. O ciclo é sempre o mesmo: o Estado cria a sensação de desamparo, oferece uma solução que parece protetora, cobra por ela, mas deixa o cidadão ainda mais vulnerável e dependente no fim do processo.
4. O papel da imprensa: propaganda estatal disfarçada

A imprensa brasileira, com raríssimas exceções, já não cumpre o papel de fiscal do poder. Ela se transformou, na prática, num braço de propaganda de pautas estatais. Sustentada por verbas públicas bilionárias, especialmente em anos eleitorais, as redações se tornam fábricas de narrativa favorável à ampliação do controle governamental. Não há questionamento aos projetos de lei que surgem após as tragédias. Pelo contrário: os jornalistas pedem por eles, exigem ação, clamam por “regulamentação urgente”.
Essa atuação tem um efeito devastador: ela sequestra o senso crítico da população. O brasileiro médio, sem acesso a fontes alternativas ou formação filosófica sólida, acaba acreditando que toda dor precisa ser curada com um novo carimbo. E, muitas vezes, nem percebe que as soluções propostas são inúteis, custosas e perigosas. A imprensa não apenas esconde os reais interesses por trás das medidas estatais — ela os embeleza, os justifica e os vende como progresso. Quando, na prática, são apenas mais um passo rumo à servidão.
5. A lógica da servidão

A equação é simples: mais medo = mais controle. Quanto mais a população for mantida em estado de alerta, mais facilmente aceitará a perda de liberdades em troca de uma ilusão de segurança. É por isso que cada tragédia vira uma campanha por mais Estado. O cidadão comum, já anestesiado por décadas de doutrinação estatal e dependência, aplaude as medidas, sem perceber que está, pouco a pouco, se acorrentando. O risco não é o balão nem o vulcão — o risco é viver num país onde tudo precisa de autorização.
Esse ciclo de pânico e controle é um mecanismo de dominação eficiente e perverso. Ele transforma eventos isolados em justificativas para políticas amplas e onerosas. Cria uma população dócil, acostumada a pedir permissão para tudo, e mantém o poder concentrado nas mãos de poucos. E enquanto isso, os cofres públicos se enchem, os políticos se reelegem, os jornalistas ganham patrocínio estatal — e o povo segue acreditando que está sendo protegido, quando na verdade está sendo explorado.
Caso você não tenha notado: a mesma estratégia foi e continua sendo usada com as armas
O ciclo de manipulação não se aplica apenas a tragédias isoladas e eventos turísticos. Ele tem sido utilizado com ainda mais força e frequência quando o assunto é o acesso às armas de fogo. Durante décadas, assistimos a uma encenação contínua: uma morte trágica causada por um criminoso é usada não para propor punições mais duras aos autores da violência, mas para justificar novas restrições àqueles que nada fizeram — os cidadãos honestos armados ou que desejam se armar.
A tática é sempre a mesma. Um crime violento ocorre, e imediatamente a mídia coloca no ar uma atriz ou personalidade pública contratada, geralmente interpretando o papel da viúva sofrida ou da mãe em prantos, para comover a audiência e direcionar a culpa — não ao bandido, mas à arma. As lágrimas são transmitidas em close-up, a trilha sonora ao fundo ajuda a construir o drama, e em poucos minutos a narrativa está consolidada: “se não houvesse armas, esse crime não teria acontecido”.
A comoção é seguida por um apelo teatral por “mais regulação”, “controle responsável”, “políticas públicas de desarmamento”. E assim, a dor verdadeira (ou simulada) de uma pessoa se transforma em combustível político. Quem está de luto, se é que está mesmo, é instrumentalizado. E quem assiste, sem preparo intelectual ou cético, aceita passivamente que a solução para o crime é desarmar quem não cometeu crime algum.
É nesse teatro que o Estado se apresenta mais uma vez como salvador. Projetos de lei que dificultam a posse e o porte de armas são propostos com base em comoção, não em dados. Ninguém mostra que a maioria dos crimes ocorre com armas ilegais. Ninguém menciona que os maiores massacres aconteceram em ambientes com proibição total de armas. A imprensa cala, os políticos aplaudem, e o povo aplaude junto — sem perceber que está sendo desarmado diante de seus predadores.
Essa estratégia não visa proteger a população. Ela visa tornar a população indefesa. Um povo armado é difícil de controlar. Um povo que pode se defender é menos dependente do Estado. Por isso, antes de atacar as liberdades com um decreto, é preciso preparar o terreno com lágrimas, sangue e um microfone estrategicamente posicionado. O Estado cria a dor, a mídia amplifica a emoção, e o povo paga o preço — com sua liberdade e sua vida.
Portanto…
O balão que caiu em SC e o corpo que ficou preso num vulcão não são apenas tragédias humanas — são instrumentos políticos. São usados como combustível por uma engrenagem que transforma dor em decreto, pânico em portaria, sofrimento em subvenção. E enquanto o povo chora, o Estado cresce. Sempre às custas da nossa liberdade.
É preciso romper esse ciclo. É preciso entender que tragédias não se resolvem com leis. Que o risco faz parte da liberdade, e que o preço da segurança absoluta é a servidão total. Só quando o cidadão voltar a assumir a responsabilidade pelos seus atos, rejeitar soluções mágicas, e desconfiar de todo aquele que lucra com o medo alheio, é que teremos uma sociedade realmente livre — e, paradoxalmente, mais segura.
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