
Por Sandro Christovam Bearare

Ao longo de minha jornada profissional no mundo do armamento e tiro, sempre prestei mais atenção aos paradigmas socioculturais que envolvem esse universo do que aos equipamentos em si. Justamente por não concordar com frases de efeito prontas e repetidas sem análise, como o famoso “não reaja”, comecei a investigar o que havia por trás dessa recomendação.
Percebi que ela não era apenas uma tentativa de evitar confrontos ou poupar vidas. Era, na verdade, um ajuste comportamental profundamente enraizado. Um condicionamento moral disfarçado de orientação prática. Uma programação coletiva baseada no medo, e não na consciência. A isso, dei o nome de cordeirização da mente humana.
A doutrina do “não reaja” se espalhou como norma silenciosa. É repetida por autoridades, jornalistas, educadores, líderes religiosos e até mesmo por aqueles que jamais passaram por uma situação real de ameaça. Tornou-se tão comum que poucos ousam questioná-la. E o mais grave é que esse condicionamento opera justamente nos momentos em que a clareza de pensamento mais importa: sob risco de morte.
O medo, quando compreendido, pode salvar. Mas o medo institucionalizado, quando vira protocolo, paralisa. E essa paralisia se apresenta muitas vezes como prudência. Mas é uma prudência que cobra caro. Quando o cidadão deixa de acreditar que pode reagir, mesmo quando teria chance real, ele abdica do seu último direito: o de existir por vontade própria.
A legítima coragem não é bravata. Não é sobre reagir de qualquer forma. É sobre romper o automatismo. Sobre não aceitar que o medo seja o único guia. É sobre pensar, avaliar, se preparar e, diante do risco, escolher com lucidez o que fazer. Isso pode significar agir. Pode significar conter-se. Mas será sempre uma escolha ativa, não uma submissão automática.
Foi com esse espírito que nasceu o texto Manifesto da Legítima Coragem. Um documento curto e direto. Escrito para despertar, e não para ensinar técnicas. Ele não busca treinar guerreiros. Busca relembrar ao cidadão comum que ele ainda tem voz, corpo, percepção, vontade. E que, sim, tem o direito natural de se proteger de forma consciente, técnica e moralmente legítima.
Reagir não é uma afronta à ordem. É um exercício do livre-arbítrio. A negação da resignação programada. O resgate do instinto lúcido.
Se você também já sentiu que há algo errado nesse discurso uníssono de rendição voluntária, talvez seja hora de ler o manifesto. Não como um manual. Mas como um espelho. E, quem sabe, como um ponto de virada.
Porque há momentos em que não pensar já é ceder. E há silêncios que custam caro demais.
Este manifesto é parte de uma reflexão maior que desenvolvi em profundidade na obra FilosofiArmas – A Defesa como Virtude Humana, onde abordo os aspectos filosóficos, religiosos, morais e civilizatórios da autodefesa. Se este artigo despertou algo em você, o FilosofiArmas certamente irá ampliar essa jornada de compreensão.
Você pode encontrar o Manifesto completo e o FilosofiArmas, quando disponíveis, em:
http://ludus.vision/e-books-e-cursos-de-seguranca/