
Fazer CQB (Close Quarters Battle) sozinho é uma… Coisa horrível. Embora em algumas situações possa ser a única opção, apresenta diversas desvantagens significativas que aumentam drasticamente o risco e diminuem a eficácia da ação.
O primeiro grande problema e desvantagem é a capacidade de fogo, depois suporte e evasão. Qualquer que seja a ação, todas as suas táticas dependerão apenas e exclusivamente de você.
Uma dificuldade especial são as entradas em portas e corredores, conhecidos como “funis da morte”. Esses funis, espaços que você não tem mobilidade para sair da direção dos disparos da sua ameaça, são extremamente perigosos para um único operador. O risco de ser emboscado é muito maior sem o apoio de uma equipe para “limpar” o ambiente simultaneamente.

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Visão Comprometida: Um único operador tem um campo de visão muito limitado. Não é possível observar todos os ângulos e ameaças potenciais ao mesmo tempo, especialmente em ambientes complexos com portas, cantos e obstáculos.
Imagine uma entrada em X. Se com equipe cada um olha pra um lado, sozinho você deverá escolher somente um lado e arriscar estar certo. É 50/50.
Isso também lhe dará ausência na cobertura, pois caso erre o lado, no sentido de ter escolhido entrar verificando e visando um lado cujo ameaça não estava presente, você não terá seu parceiro logo atrás para te cobrir.
Durante a caminhada pelos cômodos da casa, o mesmo acontece. Seu flanco e sua retaguarda nunca terão apoio.
O mesmo resultado de estar sozinho acontece para outras entradas. Imagine entrar em gancho, sozinho. Você abre a porta, passa pelo funil e dá as costas pra um dos cantos pois precisa visar o outro. De novo, é 50/50, sem apoio na retaguarda.
Abertura de portas: Segurar com o pé ou segurar com o cotovelo? Você já experimentou cada uma delas? Lembre-se que você é quem deve conhecer sua casa melhor do que sua ameaça, ou pelo menos, a defesa residencial é o contexto mais plausível para falarmos de CQB de um homem só, apesar de existem outros mais raros.
Conhecer cada canto da sua casa pra identificar qual é mais fácil de verificar é importantíssimo. Em um breve teste de sair de um cômodo, manobrar seu corpo (preciso alertar sobre realizar este exercício com equipamento real? Não né?) e chegar em outro cômodo após abrir a porta, você poderá perceber que em alguns locais a sua visão fica comprometida, mais que em outros. Para aprofundar suas pesquisas, estude e treino algo chamado como “canto fácil” e “canto difícil”.
Manobrabilidade: em algumas aulas eu morri de rir com a surpresa do aluno ao embolar a bandoleira no corrimão da escada. Eu mesmo já agarrei na maçaneta da porta. Muito se fala de postura, mas pouco se entende da palavra. Postura é estrutura. Existem estruturas melhores e existem as piores, para cada função.
Usar a bandoleira em uma arma longa dentro de casa te dará uma dificuldade bem incômoda, difícil de mitigar, ao se mover, ainda mais em locais pequenos e cheios de móveis. É preciso adaptar, treinar, testar, avaliar e adaptar e treinar de novo. Há quem recomende não usar bandoleira, mas este debate fica pra outra oportunidade.
Disciplina de luz: não adianta desligar as luzes da casa e usar a sua lanterna importada acoplada no seu T4. Não adianta ficar de pé na frente da porta e sua sombra tampar a luz que passa por debaixo dela, ou quando passar em frente a porta, quem está dentro, a ameaça, saberá pra que lado foi.
Disciplina de silhueta: outra coisa que eu vejo 99% das pessoas tem dificuldade. Quando falo pessoas, inclua esses super instrutores e policiais super especiais que vemos por aí afora, dentro e fora do Brasil, tanto faz. Todos ficam com muita frequência, com um pedaço do joelho pra fora da cobertura ou abrigo. Um cotoco da cabeça, um pé, etc. Treinar isso é essencial, pra sempre. Adote a ideia de que sua cobertura nunca está boa, você precisa treinar sempre a sua estrutura (postura) para que ela seja melhor em determinados posicionamentos.
Mover-se em silêncio: apesar de parecer coisa de filme, saber onde pisar, qual porta abrir, onde se apoiar, podem fazer a diferença na descoberta da sua posição ou pelo menos, direção, suficiente pra ameaça “varar” um drywall ou porta, até mesmo pra te fazer perder o elemento surpresa que até agora era seu. Há casas cujo trechos do piso fazem um barulho absurdo ao pisar. Há móveis que emitem sons altos de retorsão ao menor esforço de apoio. De novo, lembrando, conhecer sua casa deve ser algo detido e promovido por você se está pensando em CQB sozinho, ao ponto de ler um texto desse.
Apoio a feridos: Se o operador for ferido, não há ninguém para prestar primeiros socorros, cobrir sua retirada ou continuar a missão. Se o ferido for um PMI, como proceder? Continua no combate, contendo ou buscando a contenção da ameaça, ou muda-se a ação para APH? Se mudar pra APH, a ameaça ficas livre e segura pra agir. É uma boa ideia? Se ignorar o APH do seu PMI e focar na ameaça, seu PMI continuará sangrando até a morte, dependendo da intensidade dos danos, em um minuto ou dois, até poucos segundos. É uma boa ideia?
Essa resposta, este problema, são seus, afinal o CQB está sendo feito sozinho. Boa sorte.
Comunicação e coordenação: A comunicação é vital no CQB. Sem uma equipe, não há troca de informações sobre a localização de ameaças, reféns, rotas de fuga, etc. Tudo depende de você, evasão, contenção, tudo. Na verdade, pode-se adotar a ideia de que sua equipe é sua família. Você já conversou com eles sobre o que cada um deve fazer num contexto desse? Quem liga pra quem? Algum GR para ser acionado? Algum PAD ou PAE pra ser iniciado? Talvez seja uma boa ideia considerar pequenas conversas desse tipo, até se tornarem grandes ao ponto de virarem treinos esporádicos.
Fuga: tem que botar todo mundo pra fora do quarto, pra dentro do carro, pegar o carro e ir embora. Se a ameaça não foi contida, tem que fazer isso tudo com ela te procurando, pronta pra atirar nas suas costas. Se não for possível acompanhar sua família pra evasão, eles terão que ir sozinhos. Já teve a conversa de como fazer isso com eles? No quarto tem saída ou terão que passar pela sala, na linha de tiro da ameaça que você sabe que está na cozinha?
Disparo dentro de casa: este é um assunto simples em sua prática, mas um pouco mais prolongado em sua mentalidade. Recomendo assinarem o meu podcast ouvirem o episódio 61 – Uso de fuzil dentro de casa. Mas alguns pontos posso trazer a tona para te guiar em uma nova pesquisa, ou se interessar em contratar uma consultoria de segurança com treinos, técnicas e protocolos para sua defesa residencial.
Alguns dos pontos são o ricochete. Qual ângulo eles acontecem? Qual material repele o projétil? Outro ponto é o barulho ensurdecedor de atirar com um 762 no meio do banheiro. Será que vai dar tempo de colocar o abafador? A ameaça ainda não entrou em casa, dá tempo sim. Ótimo! Como fica a comunicação com a sua família depois de colocar o abafador? Ele é eletrônico? Treinou e conversou com sua família previamente sobre mensagem codificada, como a de sinais por exemplo? Outro ponto é conhecer sua casa para saber onde “varar”, afinal, você sabe a diferença entre abrigo e cobertura, sua ameaça não sabe. A não ser que seja um agente do governo indo te pegar, mas isso é outro papo. Mesmo sabendo os pontos úteis pra essa técnica questionável, temos outros problemas: a segurança da sua família. É uma boa ideia varar as paredes da sua casa?
O assunto não termina aqui, vai muito além. Tem muitos outros fatores a serem considerados, cenários replicados, hipóteses baseadas nas estatísticas que precisam ser entendidas. E haja treino! Especialmente se pensa nessa estratégia sendo executada por um homem só, você.
Mais uma vez, o problema desse CQB é seu, mas a boa notícia é que a construção da solução desse problema não precisa ser tão difícil quanto o próprio. Você pode contar com nossa consultoria para suar bastante no treino, diminuindo suas chances de sangrar no combate.
Vae Victis.
Sobre o autor:
Lucas Parrini atua na área de segurança com aulas, palestras, consultas e CPO, sendo especialista em combate informal, assim como na área administrativa com treinamentos, gestão de processos e equipes, apuração de impostos e cultura organizacional.
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