
Uma revisão científica publicada no European Journal of Medical Research aponta diversos efeitos sobre o sistema nervoso associados à vacinação em massa contra a COVID-19 — e explica o que a ciência ainda precisa entender.
Introdução: a pressa da ciência e o preço da urgência
Quando o mundo foi tomado pela pandemia em 2020, a humanidade viu nascer, em tempo recorde, as primeiras vacinas contra o novo coronavírus. Foi uma conquista científica sem precedentes — mas também um experimento global sem precedentes.
As vacinas foram aprovadas sob uso emergencial, ou seja, sem que todas as fases tradicionais de testagem clínica tivessem sido concluídas. Essa decisão foi compreensível diante da crise sanitária, mas inevitavelmente levantou questionamentos sobre seus possíveis efeitos adversos, sobretudo de médio e longo prazo.
O artigo publicado por Roya Hosseini e Nayere Askari, em 2023, no European Journal of Medical Research, mergulha nesse tema com profundidade. A pesquisa, intitulada A Review of Neurological Side Effects of COVID-19 Vaccination, revisa centenas de estudos e relatórios de casos entre 2020 e 2022, buscando entender como as vacinas podem afetar o sistema nervoso humano.
Quatro tipos de vacinas, diferentes reações
Os autores lembram que o mundo usou quatro grandes tecnologias de vacina contra a COVID-19:
- mRNA (Pfizer, Moderna)
- Vetor adenoviral (AstraZeneca, Johnson & Johnson, Sputnik)
- Vírus inativado (Sinovac, Sinopharm, Covaxin)
- Vacinas de proteína (baseadas em subunidades virais)
Cada uma dessas plataformas atua de modo diferente no organismo. As vacinas de mRNA, por exemplo, ensinam o corpo a produzir temporariamente a proteína “spike” do vírus para gerar imunidade. Já as de vetor adenoviral usam vírus modificados como veículos para transportar o código genético do coronavírus.
Essas abordagens, embora eficazes em gerar proteção, também podem gerar respostas imunológicas complexas — e em alguns casos, excessivas.
O cérebro e os nervos sob vigilância
Segundo os dados reunidos por Hosseini e Askari, as reações neurológicas foram as mais relatadas entre os efeitos adversos das vacinas. Elas variam de sintomas leves e temporários até distúrbios graves que exigem hospitalização.
Entre os sintomas mais comuns estão dor de cabeça intensa, tontura, fraqueza, formigamento, fadiga muscular e espasmos.
Outros casos, mais sérios, envolvem acidentes vasculares cerebrais (AVCs), encefalites, mielites transversas, síndrome de Guillain-Barré, paralisia facial de Bell e crises convulsivas.
Os efeitos tendem a aparecer entre o primeiro dia e o primeiro mês após a aplicação, e embora a maioria seja transitória, há relatos de eventos potencialmente fatais. Curiosamente, as mulheres entre 30 e 50 anos aparecem como o grupo mais afetado — algo atribuído à resposta imunológica mais forte do sexo feminino, que pode em certos casos se voltar contra o próprio organismo.
Quando a imunidade vira autoimunidade
O estudo sugere dois principais mecanismos para explicar as reações neurológicas: reações imunes ectópicas e mímica molecular.
Em termos simples, isso significa que o sistema imunológico, estimulado pela vacina, pode por engano atacar estruturas próprias do corpo humano que se assemelham às proteínas do vírus.
Esse fenômeno, já observado em outras vacinas (como a da gripe e da hepatite), pode causar inflamação de nervos e tecidos cerebrais.
Entre as doenças associadas a esse tipo de resposta estão mielite transversa — inflamação na medula espinhal que provoca fraqueza e perda de sensibilidade abaixo da região afetada — e neuromielite óptica, que compromete nervos ópticos e espinhais. Há também casos relatados de esclerose múltipla manifestando-se logo após a vacinação, especialmente com vacinas de mRNA.
Tromboses e hemorragias cerebrais: o alerta das vacinas de adenovírus
Uma das complicações mais graves descritas no artigo é a trombose do seio venoso cerebral, um tipo raro de coágulo que obstrui as veias do cérebro.
Os pesquisadores identificaram maior incidência desse evento após vacinas de vetor adenoviral, como AstraZeneca e Johnson & Johnson.
A explicação envolve a produção acidental de anticorpos contra o fator plaquetário 4 (PF4), o que ativa plaquetas e desencadeia coágulos. Essa condição, conhecida como trombocitopenia induzida por vacina, causa tanto coagulação excessiva quanto baixa contagem de plaquetas — uma combinação perigosa que pode resultar em AVC ou hemorragia.

Outros efeitos relatados: paralisias, inflamações e reativação viral
O artigo cita também casos de paralisia facial (Bell’s palsy), perda de olfato e paladar, zumbido nos ouvidos (tinnitus) e distúrbios visuais.
As vacinas da Pfizer e Moderna aparecem frequentemente associadas a esses eventos, ainda que de forma rara.
Em alguns indivíduos, observou-se ainda a reativação do vírus da catapora (Herpes Zoster), que permanecia adormecido no corpo. Esse fenômeno ocorre porque, ao redirecionar a atividade do sistema imunológico para o combate ao coronavírus, o corpo pode momentaneamente deixar de controlar outros vírus latentes.
Casos mais incomuns envolvem a Síndrome de Ramsay Hunt, em que o vírus reativado causa paralisia facial, perda auditiva e lesões dolorosas próximas ao ouvido — quadro que, inclusive, ganhou atenção pública após ser diagnosticado no cantor Justin Bieber.
O que a ciência já pode afirmar — e o que ainda não pode
Apesar da quantidade de relatos, os autores deixam claro que a correlação não implica necessariamente causalidade. Em muitos casos, é possível que os sintomas apenas coincidam temporalmente com a vacinação.
Por outro lado, a repetição de padrões clínicos semelhantes em países e vacinas diferentes reforça a necessidade de investigações aprofundadas e contínuas.
O estudo conclui que os efeitos adversos neurológicos mais recorrentes foram:
- Trombose do seio venoso cerebral (mais comum com AstraZeneca)
- Mielite transversa (Pfizer, Moderna, AstraZeneca e J&J)
- Paralisia facial de Bell (Pfizer, Moderna, AstraZeneca)
- Síndrome de Guillain-Barré (Pfizer, AstraZeneca e J&J)
- Primeira manifestação de esclerose múltipla (Pfizer)
Esses eventos, embora raros, são relevantes o bastante para justificar uma vigilância ativa e transparente.
A importância da vigilância e da liberdade científica
Hosseini e Askari defendem que a ciência continue acompanhando os vacinados ao longo dos anos, por meio de estudos de fase 4 — aqueles que avaliam a segurança real após a liberação do produto no mercado.
Somente esse acompanhamento é capaz de revelar se os efeitos são ocasionais ou sistêmicos.
Os autores também alertam para a subnotificação: muitos casos leves não são comunicados aos bancos de dados oficiais, o que distorce as estatísticas e dificulta o rastreio de padrões.
Reconhecer os riscos não é o mesmo que negar a utilidade das vacinas. Trata-se, segundo eles, de exigir que a medicina moderna assuma com honestidade seus próprios limites e responsabilidades.
Vacinar não é o mesmo que silenciar o debate
Para o cidadão comum, compreender esses achados é essencial. Saber o que pode ocorrer, ainda que raramente, é parte do direito à informação — e da maturidade científica de uma sociedade.
Debater efeitos colaterais não é ser “antivacina”: é ser pró-transparência.
Assim como o Instituto DEFESA defende que o cidadão armado é um cidadão consciente e responsável, o debate sobre vacinas deve seguir o mesmo princípio: liberdade acompanhada de conhecimento e responsabilidade individual.
A verdade científica só se mantém quando é posta à prova. E, diante da maior campanha de vacinação da história, o compromisso com essa verdade deve ser inegociável.
Referência
Hosseini, R., & Askari, N. (2023). A review of neurological side effects of COVID-19 vaccination. European Journal of Medical Research, 28(1), 102.
https://doi.org/10.1186/s40001-023-00992-0
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