
A segurança privada poderia ser um dos pilares de proteção da sociedade brasileira, se não fosse sabotada diariamente pelo Estado. Enquanto os criminosos se organizam com liberdade, armamento pesado e impunidade, os profissionais da segurança privada são sufocados por leis draconianas insanas, fiscalizações abusivas e regulações feitas por burocratas que jamais enfrentaram uma situação real de risco.
Este texto denuncia os principais absurdos que impedem a evolução da segurança privada no Brasil — e mostra como o Estado, mais uma vez, é o maior inimigo da liberdade e da proteção do cidadão honesto.
1. Graças ao Estado e à Polícia Federal, os agentes de segurança privada não podem trabalhar livremente

O agente de segurança privada é um dos profissionais mais controlados do país. Ele precisa de autorização para portar uma arma, para usar um uniforme, para exercer sua função em determinados locais e horários — e todas essas permissões estão nas mãos do Estado, mais especificamente da Polícia Federal. A burocracia é tanta que, muitas vezes, empresas inteiras deixam de atuar por meses ou anos por não conseguirem cumprir exigências sem sentido.
Esse controle extremo não serve para melhorar a qualidade da segurança prestada. Serve apenas para alimentar o poder de quem regula e fiscaliza, criando um sistema onde os bons profissionais são expulsos e os coniventes com a corrupção permanecem. O agente de segurança é tratado como um suspeito em potencial, nunca como um aliado da ordem.
Enquanto isso, os criminosos seguem soltos, armados e desimpedidos. Eles não pedem autorização da PF para cometer crimes, nem se preocupam com o número de recargas permitidas por contrato. O Estado finge que controla, mas só atrapalha quem está do lado certo.
2. A alta regulação afasta investidores e, principalmente, profissionais capacitados que se recusam a se submeter à tamanha falta de inteligência
Investidores não gostam de instabilidade e insegurança jurídica. E o que o Brasil oferece para quem quer empreender na segurança privada é um inferno regulatório. São centenas de exigências, normas contraditórias, autorizações lentas, taxas sem sentido e um sistema que muda a regra do jogo no meio da partida. Poucos ousam colocar dinheiro num setor tão imprevisível.
Pior do que afastar o capital é afastar o talento. Profissionais realmente capacitados, muitos deles com formação militar internacional ou anos de experiência prática, simplesmente se recusam a trabalhar num sistema que trata o especialista como criminoso e o fiscal como autoridade máxima. Eles sabem que seu trabalho exige liberdade, adaptabilidade e agilidade — exatamente tudo que a legislação brasileira impede.
Assim, o setor de segurança privada acaba inchado por aventureiros e apadrinhados, enquanto os verdadeiros profissionais buscam outras áreas ou mudam de país. Quem perde com isso é a sociedade, que fica mais vulnerável e mal protegida, enquanto os bandidos agradecem.

O gráfico revela um contraste gritante que deveria envergonhar qualquer burocrata brasileiro: até mesmo países como China e Índia — frequentemente criticados por sua corrupção sistêmica e ataques recorrentes às liberdades individuais — contam com setores de segurança privada gigantescos, com milhões de profissionais ativos. A Índia lidera com cerca de 7 milhões e a China segue com aproximadamente 5 milhões, mostrando que, apesar de todos os seus problemas políticos, ao menos entenderam algo que o Brasil ainda insiste em ignorar: o cidadão precisa de proteção — e o Estado não dá conta sozinho.
Esses números não significam que China ou Índia sejam modelos de liberdade ou eficiência — muito pelo contrário. Mas mostram que mesmo regimes autoritários e desorganizados reconhecem o papel fundamental da segurança privada para manter um mínimo de ordem. Enquanto isso, no Brasil, um profissional de segurança precisa pedir permissão até para respirar, preso a uma teia absurda de exigências da Polícia Federal, de normas inúteis e fiscalizações arbitrárias.
O Brasil se comporta como um Estado que desconfia de quem quer trabalhar honestamente com segurança e trata o vigilante como criminoso em potencial. E o resultado é exatamente o que vemos nas ruas: criminalidade em alta, policiamento insuficiente e cidadãos reféns da própria sorte. Se até a China e a Índia conseguem deixar a segurança privada funcionar — mesmo com todos os seus problemas estruturais — o que justifica o Brasil continuar sabotando quem quer proteger a sociedade?

O gráfico apresentado mostra o número de profissionais de segurança privada por 100.000 habitantes em 10 países, oferecendo uma visão mais precisa da importância relativa desse setor em cada sociedade. Enquanto Índia e China lideram em números absolutos, suas densidades proporcionais são modestas — 493 e 355 profissionais por 100 mil habitantes, respectivamente — reflexo de suas populações colossais. Já países como África do Sul e Estados Unidos se destacam com densidades mais altas, superando os 900 profissionais por 100 mil habitantes.
O Brasil, com aproximadamente 257 profissionais por 100 mil habitantes, aparece atrás de várias nações desenvolvidas e até de países com enormes desafios sociais, como a própria África do Sul. O dado confirma aquilo que já denunciamos: o setor de segurança privada no Brasil é mantido pequeno não por falta de demanda, mas por estrangulamento regulatório deliberado. Profissionais são desestimulados, empresas são sufocadas e o cidadão fica à mercê da própria sorte.
Mas aí surge uma pergunta legítima: e quanto à qualidade técnica desses profissionais?
Porque não basta ter muitos — é preciso que saibam o que estão fazendo. E aqui, novamente, o Brasil falha de maneira grotesca. O mesmo Estado que proíbe, atrasa, limita e fiscaliza tudo com mãos de ferro, é o mesmo que aceita cursos de formação ridículos, com instrutores despreparados, conteúdo irrelevante e nenhum incentivo à formação continuada. Resultado: nem quantidade, nem qualidade.
Nos Estados Unidos, por exemplo, empresas privadas com alto grau de exigência e liberdade formam seus próprios agentes com foco em eficiência real, não em burocracia. Na África do Sul, o crescimento do setor aconteceu pela necessidade, mas a competição e liberdade elevaram o nível técnico de muitos profissionais. Já no Brasil, o profissional que quer ser bom precisa pagar caro, por fora, e rezar para não ser punido por ter iniciativa.
Ou seja, o problema não está só no número pequeno de profissionais. Está, sobretudo, na tentativa do Estado de controlar aquilo que não entende. A qualidade técnica da segurança privada brasileira só vai melhorar quando ela for livre para crescer, se especializar, competir e proteger — sem amarras ideológicas ou cartoriais.
A qualidade técnica dos profissionais de segurança privada varia significativamente entre os países, refletindo as diferenças nos requisitos de treinamento, regulamentações e padrões de certificação. A seguir, apresento um panorama comparativo baseado nas informações disponíveis:
🇧🇷 Brasil
No Brasil, a formação dos vigilantes é regulamentada pela Polícia Federal. A legislação exige cursos de formação com carga horária mínima, abrangendo disciplinas como legislação aplicada, técnicas de segurança e primeiros socorros. No entanto, críticas apontam que a formação pode ser insuficiente, com conteúdos desatualizados e falta de treinamento prático adequado. Além disso, a fiscalização é considerada deficiente, permitindo a atuação de profissionais sem a devida qualificação.
🇺🇸 Estados Unidos
Nos EUA, os requisitos de treinamento para guardas de segurança variam de acordo com o estado. Por exemplo, na Califórnia, é exigido um treinamento inicial de 8 horas, seguido por 32 horas adicionais nos primeiros seis meses de emprego. Apesar disso, uma reportagem da Time destaca que muitos estados não exigem treinamento formal para guardas desarmados, resultando em profissionais com pouca ou nenhuma preparação adequada. Time
🇮🇳 Índia
Na Índia, a Lei de Regulamentação de Agências de Segurança Privada de 2005 (PSARA) estabelece que os guardas de segurança devem completar um treinamento de 160 horas antes de serem implantados. Esse treinamento inclui aspectos legais, técnicas de segurança e primeiros socorros. capsi.in+2ossim.in+2Bombay Chamber -+2
🇨🇳 China
Na China, a regulamentação exige que os candidatos a guardas de segurança tenham pelo menos ensino fundamental completo e passem por exames organizados pelas autoridades locais. Além disso, existem academias especializadas, como a Genghis Security Academy, que oferecem treinamentos intensivos para bodyguards, incluindo combate, técnicas de proteção e etiqueta profissional. taipeitimes.com+1Time+1
🇿🇦 África do Sul
Na África do Sul, a Autoridade Reguladora da Indústria de Segurança Privada (PSIRA) estabelece padrões de treinamento para guardas de segurança. O treinamento é dividido em diferentes níveis (Grades E a A), com conteúdos que vão desde patrulhamento básico até proteção executiva. Apesar disso, há preocupações sobre a qualidade e atualização dos programas de treinamento. securitysa.com
📊 Comparativo de Carga Horária de Treinamento
País | Carga Horária Mínima de Treinamento | Observações |
---|---|---|
🇧🇷 Brasil | Variável (mínimo estabelecido por lei) | Críticas sobre qualidade e fiscalização insuficientes |
🇺🇸 EUA | 8 a 40 horas (dependendo do estado) | Variações significativas; alguns estados não exigem treinamento formal |
🇮🇳 Índia | 160 horas | Treinamento abrangente conforme PSARA |
🇨🇳 China | Exigências variáveis; academias especializadas | Treinamento intensivo em academias privadas |
🇿🇦 África do Sul | Mínimo de 30 horas (Grade E) | Treinamento dividido em níveis; preocupações com atualização dos programas |
Essas informações destacam as disparidades na formação de profissionais de segurança privada ao redor do mundo. Enquanto alguns países estabelecem padrões rigorosos e programas de treinamento abrangentes, outros enfrentam desafios relacionados à qualidade e fiscalização. No Brasil, apesar da existência de regulamentações, há críticas quanto à eficácia dos programas de formação e à supervisão dos profissionais em atividade. Nos EUA, país padrão-ouro quando o assunto é segurança privada, as regulações são mais baixas, enquanto países autocráticos e odiosos, como o próprio Brasil e a China, aumentam a burocracia como forma de enganar o povo, e abrir as portas para corrupção, enquanto os profissionais em si, continuam tecnicamente ruins e as empresas engessadas.
TEMPO ESTIMADO PARA ABERTURA DE UMA EMPRESA DE SEGURANÇA PRIVADA
País | Tempo estimado | Observações-chave |
---|---|---|
🇧🇷 Brasil | 4 a 12 meses | Altamente burocrático, exige autorização da PF |
🇺🇸 EUA | 2 sem a 3 meses | Varia por estado, descentralizado e funcional |
🇮🇳 Índia | 2 a 6 meses | Regras estaduais, exige licença PSARA |
🇨🇳 China | 4 a 8 meses | Controle estatal forte, limitado a chineses |
🇿🇦 África do Sul | 3 a 6 meses | Exige registro na PSIRA |
🇩🇪 Alemanha | 2 a 4 meses | Exige exame oficial na câmara de comércio |
🇬🇧 Reino Unido | 1 a 3 meses | Licenciamento pela SIA, considerado eficiente |
🇫🇷 França | 2 a 5 meses | Exige autorização do CNAPS |
🇯🇵 Japão | 3 a 6 meses | Forte controle policial local |
🇦🇺 Austrália | 1 a 2 meses | Licenças estaduais, processo eficiente |
O quadro comparativo apresentado revela, de forma clara e objetiva, como o Brasil é um dos países mais burocráticos e hostis do mundo para quem deseja abrir legalmente uma empresa de segurança privada. Com prazos que frequentemente ultrapassam 12 meses, somados a exigências desproporcionais e autorizações altamente centralizadas na Polícia Federal, o empreendedor brasileiro enfrenta uma verdadeira maratona estatal — tudo isso para oferecer um serviço que, ironicamente, supre a falência do próprio Estado em prover segurança pública.
Em contraste, países com sistemas igualmente regulados, como Alemanha, Reino Unido e Austrália, conseguiram estruturar um processo mais eficiente e funcional. Na Austrália, por exemplo, todo o processo pode ser concluído em menos de dois meses. No Reino Unido, as exigências técnicas são igualmente rigorosas, com licenças concedidas pela SIA (Security Industry Authority), mas o processo flui com agilidade e profissionalismo, incentivando a legalidade e a competitividade.
Mesmo em países com estruturas políticas complexas como Índia, África do Sul e Japão, o tempo para legalizar uma empresa de segurança privada tende a ser significativamente menor que no Brasil. Até a China — notória por seu controle estatal — tem um processo mais ágil e, paradoxalmente, menos contraditório do que o brasileiro, ao menos em termos de tempo de resposta.
Essa disparidade evidencia um problema crônico: o Brasil não regula a segurança privada para qualificá-la — regula para sufocá-la. E o resultado é o que vemos nas ruas: menos empresas legalizadas, mais informalidade, serviços precários e o cidadão abandonado à própria sorte. Se o Estado não quer proteger a população, o mínimo que deveria fazer é não atrapalhar quem quer. E no Brasil, até isso parece pedir demais.
3. Não podem usar armas de verdade
A legislação brasileira impõe restrições absurdas ao armamento dos profissionais de segurança privada. Em muitos casos, eles são obrigados a trabalhar com revólveres calibre .38 de capacidade limitada, mesmo em situações onde enfrentam criminosos armados com fuzis e granadas. É um desequilíbrio grotesco que coloca vidas em risco.
Essas limitações não têm base técnica. São decisões ideológicas, baseadas no medo irracional de que um cidadão armado é mais perigoso que um criminoso armado. O que o legislador brasileiro parece não entender é que o uso de armamento adequado é parte fundamental de qualquer estratégia de segurança. Sem ele, o profissional vira alvo, não agente de proteção.
Enquanto isso, criminosos seguem com acesso a armamentos automáticos, miras táticas, coletes balísticos e munição abundante. A legislação não os atinge — atinge apenas quem está do lado da lei. É mais uma piada trágica da justiça brasileira: punir quem respeita a lei e deixar livre quem a ignora.
País | Armas permitidas à segurança privada | Uso de fuzis permitido? | Observações principais |
---|---|---|---|
🇧🇷 Brasil | Apenas armas de uso permitido, geralmente pistolas e revólveres | ❌ Proibido | Proibido o uso de fuzis ou armas longas. Até pistolas .40 exigem autorização especial. |
🇺🇸 Estados Unidos | Pistolas, espingardas e, em muitos estados, fuzis semiautomáticos | ✅ Permitido com restrições | Depende do estado e da função (ex: transporte de valores, infraestrutura crítica). |
🇮🇳 Índia | Pistolas e revólveres de calibre civil, mediante licença individual | ❌ Raríssimo | Licenças são individuais e difíceis de obter. Armas longas raramente autorizadas. |
🇨🇳 China | Nenhuma arma de fogo para segurança privada | ❌ Proibido | Proibido por lei. Segurança privada atua desarmada. |
🇿🇦 África do Sul | Pistolas e espingardas; empresas podem adquirir armas de fogo | ⚠️ Restrito e em debate | Discussão sobre proibir uso em espaços públicos. Ainda permitido para escoltas. |
🇩🇪 Alemanha | Pistolas, revólveres, espingardas com licença específica | ⚠️ Raramente permitido | Fuzis são permitidos apenas sob autorização excepcional (transporte de alto risco). |
🇬🇧 Reino Unido | Armas de fogo proibidas à segurança privada | ❌ Proibido | Segurança armada só é permitida às forças estatais. |
🇫🇷 França | Pistolas, espingardas e, em alguns casos, armas longas | ✅ Permitido com autorização | Fuzis podem ser usados em proteção de locais sensíveis (usinas, VIPs, diplomatas). |
🇯🇵 Japão | Quase nenhuma permissão; apenas segurança armada em casos extremos | ❌ Proibido | Sistema ultrarrestritivo mesmo para empresas. |
🇦🇺 Austrália | Pistolas, espingardas, e fuzis para transporte de valores | ✅ Permitido em casos específicos | Regulamentação estadual. Fuzis aceitos em cenários de alto risco com licenças especiais. |
🟥 Brasil: atraso evidente
Enquanto países com sistemas funcionais — como EUA, França e Austrália — permitem o uso de fuzis semiautomáticos e armas longas em contextos de alto risco, o Brasil ainda trata a segurança privada como uma ameaça, não como um aliado. Profissionais responsáveis e legalizados são impedidos de portar armamento minimamente compatível com os riscos reais que enfrentam nas ruas.
Mesmo países burocráticos ou socialistas como Índia e Alemanha oferecem mais liberdade operacional em determinados cenários. A proibição absoluta de armas longas no Brasil para a segurança privada é um resquício de um Estado que não confia em seus cidadãos — nem mesmo nos que se propõem a protegê-los.

4. A legislação se preocupa em regular a roupinha. Ridículo.
Enquanto o Brasil mergulha em índices alarmantes de violência, a legislação sobre segurança privada perde tempo detalhando exigências absurdas sobre uniformes. Cores obrigatórias, tamanhos de brasões, tipo de tecido, bordado autorizado — tudo isso regulamentado com o peso de um decreto. Parece piada, mas é verdade.
Essa obsessão estética revela o quanto o Estado está desconectado da realidade. O que importa não é a aparência, mas a competência. Um segurança bem treinado, bem armado e bem posicionado vale mil vezes mais do que um sujeito com uniforme padronizado e treinamento pífio. Mas, no Brasil, o que se regulamenta é o superficial.
É a típica mentalidade cartorial brasileira: forma sobre função. Enquanto se discute o tom do sapato, vidas são perdidas. E os órgãos de fiscalização parecem achar que, se a camisa estiver no padrão, tudo está resolvido. É vergonhoso.
No Brasil, o vigilante não precisa estar bem armado, bem treinado ou com respaldo legal para agir com firmeza diante de um criminoso. Não. Ele precisa estar uniformizado com requintes de burocracia, digno de um desfile da incompetência estatal. Isso porque a Polícia Federal, por meio da Portaria nº 18.045/2023, acha mais importante regular a cor da camisa do que autorizar o uso de armamento compatível com os riscos reais.
Segundo essa portaria, o uniforme do vigilante precisa seguir uma série de exigências ridículas, como se o criminoso fosse recuar ao ver um bordado bem alinhado. Entre os “requisitos fundamentais” estão:
- Apito com cordão (sim, em pleno século XXI, ainda acham que apitar resolve um assalto à mão armada);
- Crachá visível com nome e função, porque, claro, o criminoso precisa saber o nome do profissional que ele vai ameaçar;
- Emblema da empresa, pra não confundir com a portaria do prédio vizinho;
- E o mais patético: proibição de usar qualquer traje que se assemelhe a policiais ou militares, como se o problema do Brasil fosse excesso de aparência de autoridade, e não sua total ausência.
E se a empresa quiser mudar algo no uniforme? Tem que pedir benção à Polícia Federal, com memorial descritivo, fotografia, declaração e provavelmente uma oferenda burocrática em três vias. Tudo isso para, no final, o vigilante usar uma camisa bege, um cinto de lona, e um par de botinas que o criminoso mal nota antes de puxar o fuzil.
O resultado prático?
Vemos vigilantes em agências bancárias ou shoppings trajando com rigor seu uniforme padronizado — suando, apitando e exibindo um .38 velho e oxidado na cintura — enquanto são alvos fáceis de criminosos com fuzis, granadas e coletes táticos importados. É uma cena de comédia que só não é mais engraçada porque termina em tragédia.
Essa regulação absurda não salva vidas. Ela só serve para manter o controle estatal sobre quem quer proteger a sociedade. O criminoso ri. O cidadão paga. E o vigilante — esse sim — veste o uniforme da humilhação estatal todos os dias.

5. O treinamento exigido é inexistente, pífio. E não, a solução não é exigir mais treinamento — é parar de incomodar quem quer trabalhar.
Os cursos exigidos para atuação na segurança privada muitas vezes são uma farsa. Conteúdo desatualizado, instrutores sem vivência prática, carga horária insuficiente e nenhuma avaliação real de desempenho. Tudo vira uma formalidade burocrática para “cumprir tabela”.
O problema não está na quantidade de treinamento, mas na qualidade e na liberdade para treinar. Se o Estado parasse de atrapalhar, empresas e profissionais poderiam buscar formações sérias, modernas e contínuas — inclusive com instrutores estrangeiros, simulações táticas, e acesso a ambientes de treino realistas. Mas isso não é permitido.
Exigir mais treinamento sob a mesma lógica estatal é só ampliar o problema. O que se precisa é de liberdade para treinar de verdade — e isso só acontece quando o Estado sai do caminho e deixa o profissional fazer o que sabe fazer: se preparar para proteger.
A grade curricular do Curso de Formação de Vigilantes no Brasil é estabelecida pela Portaria nº 16 – CGCSP/DPA/PF, de 1º de agosto de 2024, que define o conteúdo programático, carga horária e demais requisitos dos cursos de formação, extensão e reciclagem de vigilantes, no âmbito da Polícia Federal. Fonte
Conforme essa portaria, o curso de formação de vigilantes possui uma carga horária total de 200 horas-aula, distribuídas entre disciplinas teóricas e práticas. A seguir, apresento a grade curricular conforme estabelecida na referida portaria:
📚 Grade Curricular do Curso de Formação de Vigilantes
Disciplina | Carga Horária (h/a) |
---|---|
Noções de Segurança Privada | 8 |
Legislação Aplicada e Direitos Humanos | 20 |
Relações Humanas no Trabalho | 10 |
Sistema Nacional de Segurança Pública e Crime Organizado | 10 |
Prevenção e Combate a Incêndio | 6 |
Primeiros Socorros | 6 |
Educação Física | 20 |
Defesa Pessoal | 20 |
Armamento e Tiro | 20 |
Vigilância | 24 |
Radiocomunicações | 10 |
Noções de Segurança Eletrônica | 10 |
Noções de Criminalística e Técnicas de Entrevista Prévia | 10 |
Uso Progressivo da Força | 10 |
Gerenciamento de Crises | 10 |
Verificação de Aprendizagem | 6 |
Total | 200 |
O treinamento obrigatório para vigilantes no Brasil é, na prática, uma formalidade ineficaz que pouco contribui para a capacitação real dos profissionais. Com disciplinas engessadas, carga horária diluída e uma abordagem generalista, o curso serve mais para atender exigências cartoriais da Polícia Federal do que para preparar alguém para o enfrentamento de situações críticas. É absurdo imaginar que o Estado — o mesmo que falha diariamente na formação de seus próprios agentes — tenha qualquer legitimidade ou competência para definir como deve ser o treinamento de profissionais da iniciativa privada. Quem deveria cuidar da formação de seus funcionários é a empresa contratante, que conhece sua realidade, seus riscos operacionais e seu padrão de qualidade. Ao invés disso, temos um modelo centralizado, ultrapassado e inútil, que impede a evolução técnica do setor e ainda pune quem tenta inovar.
6. Fiscalização sobre armas, munições, veículos blindados, regime de trabalho — tudo vira um grande circo de horrores
A burocracia não tem fim. Tudo precisa ser fiscalizado, comunicado, autorizado, documentado e renovado: a arma, a munição, o tipo de munição, o número de recargas, o carro blindado, a escala de trabalho, o tipo de contrato com o cliente, o colete balístico, o GPS da viatura… tudo.
Essa fiscalização exagerada transforma o trabalho em um inferno operacional. As empresas gastam mais tempo e dinheiro lidando com papelada do que treinando seus funcionários. Os profissionais vivem com medo de cometer alguma infração sem querer — e os fiscais, é claro, fazem a festa.
Não há transparência, não há critério técnico, e não há diálogo com quem está na linha de frente. A fiscalização vira instrumento de punição e chantagem, não de melhoria do serviço. E quem se prejudica? O cidadão, que paga caro por uma segurança engessada e ineficiente.
Na prática, uma empresa de segurança privada no Brasil opera sob um verdadeiro cerco fiscalizatório estatal, que mais se parece com um sistema de intimidação institucionalizada do que com um mecanismo legítimo de garantia da ordem. A principal responsável por esse controle é a Polícia Federal, por meio da Divisão de Controle da Segurança Privada (DICOF/CGCSP), mas na realidade, diversos órgãos e esferas se sobrepõem no processo, criando uma rede caótica e sufocante de exigências e vistorias.
📋 Algumas das fiscalizações mais comuns que uma empresa do setor sofre:
- Fiscalização de documentação legal e autorizações
A empresa precisa manter atualizadas, sob pena de sanções imediatas:- Autorização de funcionamento emitida pela PF;
- Certidão de regularidade fiscal (municipal, estadual, federal);
- Certificados dos cursos dos vigilantes e reciclagens dentro do prazo;
- Comprovação da existência de responsável técnico qualificado.
- Vistoria de armas e munições
A PF realiza auditorias em estoque de armas e munições, verificando:- Armas em número exato e registradas individualmente;
- Munições estocadas e disparadas com controle de lote e número de série;
- Recargas, devoluções e extravios — tudo deve estar documentado com boletim, relatório e justificativa.
→ Qualquer inconsistência é tratada como potencial crime.
- Fiscalização da sede e estrutura física
Exige-se:- Sistema de videomonitoramento interno;
- Cofre com certificação técnica para guarda de armas;
- Sistema de alarme e proteção física mínima;
- Local adequado para cursos de reciclagem e instruções internas.
→ Muitas dessas exigências são dispendiosas e completamente desnecessárias para atividades que não envolvem armas (ex: portaria desarmada).
- Controle do uso de uniforme e identidade visual
A empresa pode ser fiscalizada e autuada se:- O emblema do uniforme estiver em tamanho ou posição incorreta;
- O apito não tiver o cordão padrão;
- O vigilante estiver fora do horário de trabalho com o uniforme;
- O uniforme lembrar remotamente o de alguma força pública.
- Jornadas de trabalho e contratos
Fiscalizações cruzadas com Ministério do Trabalho e Receita Federal monitoram:- Escalas de serviço e banco de horas;
- Registros de ponto;
- Cumprimento de CLT e convenções coletivas.
- Veículos operacionais
Caso a empresa utilize viaturas, deve:- Registrar os veículos na Polícia Federal;
- Ter plotagem aprovada;
- Comprovar uso específico e exclusivo;
- Manter rastreamento e controle de rotas.
- Auditorias de rotina ou motivadas por denúncia
A PF pode realizar auditorias “in loco” a qualquer momento, principalmente quando provocada por sindicatos, concorrentes ou até clientes insatisfeitos. Nesses casos, qualquer falha — mesmo mínima — pode gerar advertência, suspensão ou cassação da autorização de funcionamento.
Você teria disposição de trabalhar num mercado assim?
🟥 Resultado: um setor travado, vigiado e com medo de operar
A soma dessas fiscalizações cria um ambiente de intimidação permanente, onde o empreendedor gasta mais tempo respondendo ofícios e organizando pastas do que treinando seus funcionários ou atendendo seus clientes. Tudo isso sem nenhum impacto real na segurança pública — pelo contrário, os profissionais ficam desmotivados, as empresas boas desistem e sobra espaço para aventureiros ou conchavos.
Enquanto isso, o crime organizado — esse sim bem armado, estruturado e livre de fiscalização — ri da burocracia. A fiscalização sobre a segurança privada no Brasil não protege o cidadão: ela protege o monopólio da ineficiência estatal.

7. A falta de profissionais abre espaço a algo ainda pior: policial fazendo bico de segurança
Com tantos obstáculos, poucos querem entrar ou permanecer na segurança privada. Isso gera um vácuo de mão de obra — que é preenchido por policiais da ativa fazendo “bico”. Não há problema em um policial querer trabalhar em seu tempo livre. O problema está na estrutura do sistema.
Em vez de permitir que existam profissionais civis bem treinados e bem pagos, o Estado sufoca o setor e “empurra” a solução para os próprios agentes públicos. Isso gera conflito de interesses, uso indevido de estrutura pública, e prejudica tanto a segurança privada quanto a pública.
Vale lembrar ainda de um praxe vergonhoso na sociedade brasileira: a extorsão policial sobre a segurança privada. A maior parte dos empresários no Brasil já passou por isso. Assim que você abre a empresa, “alguém” vai até ela gentilmente oferecendo segurança, o que na prática coage o empresário. Não raramente essa segurança é feita de bicos, informalmente. Policiais e mafiosos se misturam em um grupo cujo objetivo é atacar quem produz.
A longo prazo, isso inviabiliza a profissionalização do setor. O bico vira regra, e o trabalho sério desaparece. É preciso libertar o setor da dependência do Estado — inclusive da sua mão de obra. Segurança privada deve ser privada. Simples assim.

8. Precisamos de menos regulação
A fórmula do sucesso é simples: mais liberdade, menos burocracia. Quando o Estado se afasta, o mercado responde com inovação, eficiência e qualidade. Isso vale para qualquer setor — e a segurança não é exceção.
A regulação atual é baseada em desconfiança. Parte-se do princípio de que todo segurança é um risco, e que o Estado precisa controlar cada aspecto de sua atuação. Esse modelo só gera informalidade, corrupção e mediocridade. Funcionários públicos e políticos procuram tirar cada centavo do cidadão, dentro da lei e fora dela.
O que precisamos é do oposto: confiar no cidadão, valorizar quem quer proteger, e remover as amarras que hoje sufocam quem está do lado certo. Menos Estado, mais liberdade. Só assim teremos uma segurança privada que funcione de verdade.
Resumo: 10 razões pelas quais a segurança privada não evolui no Brasil
- Excesso de regulação inútil
- Proibição do uso adequado de armas
- Fiscalização autoritária e ineficaz
- Burocracia que paralisa empresas
- Controle político sobre armamentos
- Desestímulo ao investimento no setor
- Treinamento exigido sem qualidade
- Desigualdade jurídica entre público e privado
- Penalizações arbitrárias contra profissionais
- Mentalidade ideológica anti-liberdade
📚 Referências Bibliográficas
- Brasil. (2024). Portaria nº 16 – CGCSP/DPA/PF, de 1º de agosto de 2024. Dispõe sobre os cursos de formação, extensão e reciclagem de vigilantes. Disponível em: https://www.gov.br/pf/pt-br/assuntos/seguranca-privada/legislacao-normas-e-orientacoes
- Polícia Federal. (2023). Portaria nº 18.045/2023. Estabelece normas para funcionamento de empresas de segurança privada no Brasil. Disponível em: https://www.gov.br/pf
- Time Magazine. (2023). Insecure: Private Security Lacks Regulations in the U.S. Disponível em: https://time.com/6275455/insecure-private-security-lacks-regulations
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- Westminster Security. (n.d.). Are Close Protection Officers Armed in the UK? Disponível em: https://www.westminstersecurity.co.uk/close-protection/armed-uk
- Intelligent Protection International. (n.d.). Armed Security in France. Disponível em: https://www.intelligent-protection.co.uk/armed-security-france.html
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- Statista. (2022). Private security employment by country. Disponível em: https://www.statista.com/chart/10925/where-private-security-outnumbers-the-police
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