
A discussão sobre violência armada nos Estados Unidos frequentemente ocupa o centro do debate internacional. No entanto, um dado surpreendente revela uma outra realidade: mais pessoas morrem todos os anos na Europa devido ao calor extremo — intensificado pela falta de climatização — do que morrem nos EUA por armas de fogo.
No verão europeu de 2022, cerca de 61.672 pessoas morreram em decorrência do calor, segundo estudo publicado pela revista científica Nature Medicine. Essas mortes ocorreram entre os meses de maio e setembro, período mais quente do ano no continente.
Já em 2023, a situação permaneceu alarmante: foram ao menos 47.690 mortes ligadas ao calor na Europa. O dado vem de uma análise coordenada pelo instituto de saúde pública europeu, em colaboração com a imprensa francesa (Le Monde).
Para efeito de comparação, os Estados Unidos registraram em 2022 um total de 48.204 mortes por armas de fogo, segundo o CDC (Centers for Disease Control and Prevention). Em 2023, esse número caiu para 46.728.
Isso significa que a quantidade de europeus que morrem de calor supera, ano após ano, o número de americanos mortos por armas de fogo, apesar da retórica alarmista sobre armas nos EUA e do silêncio em torno da vulnerabilidade térmica europeia.
O fator central dessa equação é o ar-condicionado — ou melhor, a ausência dele. Na maioria dos países europeus, especialmente os do norte e centro do continente, o uso de aparelhos de climatização ainda é limitado.
Por razões culturais, ambientais e históricas, o ar-condicionado nunca foi um item amplamente utilizado ou considerado essencial na Europa. Mas com o avanço das mudanças climáticas, essa percepção já está custando vidas em escala alarmante.
Enquanto isso, nos Estados Unidos, cerca de 90% dos lares possuem ar-condicionado. Na Europa, esse número gira em torno de 20%, com variações significativas entre os países. No Reino Unido, por exemplo, menos de 5% das casas são climatizadas.
A ausência de climatização adequada é responsável por criar ambientes internos insalubres, especialmente para idosos, crianças e pessoas com doenças crônicas, que compõem a maioria das vítimas das ondas de calor.
É importante entender que o calor extremo não é apenas desconfortável: ele pode matar por meio da desidratação, hipertermia, falência múltipla dos órgãos e agravamento de comorbidades.

As estatísticas são especialmente trágicas porque as mortes causadas pelo calor extremo são quase 100% evitáveis. Um aparelho de ar-condicionado funcionando poderia, em muitos casos, salvar vidas.
Contrastando com isso, a maioria das mortes por armas de fogo nos EUA envolve suicídios (mais de 54%) e são estatisticamente mais concentradas em certos estados, grupos etários e contextos sociais.
Em termos de taxa per capita, os Estados Unidos registraram 13,7 mortes por armas de fogo por 100.000 habitantes em 2023. Já a taxa de mortes por calor na Europa, durante o verão de 2022, ultrapassou 90 por milhão — o que, ao longo de um ano, é igualmente significativo.
Quando se analisa com frieza os dados, percebe-se que o discurso antiarmas carece de proporcionalidade, principalmente quando comparado a outras ameaças mortais concretas, como as ondas de calor.
O discurso comum na Europa tende a criticar os americanos por sua cultura armamentista. No entanto, ignora-se o custo humano de não adotar tecnologias simples e salvadoras como o ar-condicionado.
O aquecimento global tende a tornar essa crise ainda mais severa. Projeções do European Environment Agency indicam que, até 2100, a Europa pode enfrentar até 215 mil mortes anuais por calor extremo.
Ainda que os EUA apresentem números absolutos altos de mortes por armas, é possível constatar que eles também estão entre os países mais preparados em infraestrutura de proteção climática doméstica.
O discurso público, no entanto, segue invertendo as prioridades. Gasta-se energia política e midiática demonizando a posse de armas, ao passo que quase nenhuma campanha é feita para equipar lares europeus com ar-condicionado.
Mais do que uma comparação provocativa, os dados sugerem uma reflexão profunda: quantas mortes poderiam ser evitadas na Europa com o simples incentivo à climatização residencial?
Se o objetivo das políticas públicas é salvar vidas, então talvez fosse mais eficaz subsidiar aparelhos de ar-condicionado do que atacar, de maneira moralista, uma ferramenta amplamente presente nos lares norte-americanos.
Aliás, é interessante notar que o debate sobre armas nos EUA, embora inflamado, ao menos se baseia em direitos constitucionais claros, como a Segunda Emenda. Já a falta de preparo térmico na Europa é resultado de negligência silenciosa.
Além disso, nos EUA, cidadãos armados também atuam muitas vezes como fator de dissuasão contra crimes violentos. Armas são usadas milhões de vezes por ano para defesa, ainda que sem disparos — o que não aparece nas estatísticas de morte.
Enquanto isso, o calor mata silenciosamente. Sem manchetes sensacionalistas. Sem protestos. Sem debates televisivos. Apenas uma estatística esquecida no verão europeu.
Seria o calor menos letal se fosse mais midiático? Ou será que a ausência de culpados claros (como um atirador) o torna menos politizável?
O que está claro é que os números não mentem. A cada verão, milhares de vidas se perdem por falta de climatização. E isso poderia ser resolvido com tecnologia já disponível e acessível.
É preciso rever nossas prioridades morais e políticas. A liberdade de estar armado, nos EUA, é um direito. Mas estar climatizado deveria ser uma necessidade em qualquer país civilizado.
A Europa não precisa de mais discursos. Precisa de mais ar-condicionado. E de mais honestidade ao discutir os verdadeiros riscos que seus cidadãos enfrentam
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