
O debate sobre a relação entre posse de armas de fogo e violência é acalorado em todo o mundo. Muitos argumentam que o aumento do armamento civil pode provocar uma escalada de conflitos, enquanto outros sustentam que o direito à autodefesa é um pilar da segurança individual. Este estudo analisa especificamente a relação entre o número de armas civis por 100 pessoas e os índices de terrorismo — medidos tanto em número de incidentes quanto em número de mortes por 100 milhões de habitantes — em diferentes países.
Para realizar essa análise, foram selecionados 13 países representativos de diversas regiões geográficas e contextos sociopolíticos distintos. Entre eles estão nações com alta taxa de armamento civil, como os Estados Unidos, e outras com baixa ou média posse de armas, mas com alto histórico de violência terrorista, como Iraque, Afeganistão e Nigéria.
País | Armas por 100 pessoas | Incidentes por 100 milhões | Mortes por 100 milhões |
---|---|---|---|
EUA | 120,5 | 8,6 | 11,5 |
Iraque | 19,6 | 6.280 | 20.465 |
Afeganistão | 12,5 | 4.524 | 14.762 |
Iêmen | 52,8 | 1.765 | 7.059 |
Nigéria | 3,2 | 278 | 2.453 |
Paquistão | 22,3 | 500 | 667 |
França | 31,2 | 25 | 100 |
Reino Unido | 4,6 | 10 | 50 |
Alemanha | 19,6 | 15 | 80 |
Canadá | 30,8 | 5 | 20 |
Austrália | 14,5 | 2 | 5 |
Suécia | 23,0 | 3 | 10 |
Índia | 6,0 | 64 | 21 |
A fonte primária para os dados de posse de armas foi o relatório anual do Small Arms Survey, uma iniciativa do Graduate Institute of International and Development Studies, com sede em Genebra. As estimativas utilizadas consideram o número total de armas civis registradas e não registradas por 100 pessoas.
Os dados referentes a incidentes e mortes por terrorismo foram extraídos da Global Terrorism Database (GTD), mantida pelo National Consortium for the Study of Terrorism and Responses to Terrorism (START), da Universidade de Maryland. A média de incidentes e mortes foi estimada com base em relatórios entre os anos de 2015 e 2024.
A população de cada país foi baseada em projeções do World Population Review para o ano de 2025. Esses valores foram utilizados para padronizar os dados, convertendo o número absoluto de incidentes e mortes para uma razão por 100 milhões de habitantes, permitindo a comparação proporcional entre países.
A tabela e o gráfico gerados mostram que países com altas taxas de armamento civil, como os Estados Unidos (120,5 armas por 100 pessoas), apresentam uma taxa extremamente baixa de terrorismo: apenas 8,6 incidentes e 11,5 mortes por 100 milhões de habitantes.
Em contraste, o Iraque — com 19,6 armas por 100 pessoas — apresenta 6.280 incidentes e 20.465 mortes por 100 milhões, sendo o país mais violento da lista em termos de terrorismo. O Afeganistão, com 12,5 armas por 100 pessoas, também figura entre os mais violentos, com mais de 14 mil mortes por 100 milhões.
O caso do Iêmen é particularmente revelador: com 52,8 armas por 100 pessoas (a maior taxa entre os países árabes), apresenta uma taxa alarmante de 1.765 incidentes e 7.059 mortes por 100 milhões de habitantes. O dado demonstra que, em regiões de guerra civil e forte presença de milícias, a disponibilidade de armas pode sim ser acompanhada de violência extrema.
Por outro lado, países como o Reino Unido, com apenas 4,6 armas por 100 pessoas, apresentam níveis muito baixos de terrorismo: cerca de 10 incidentes e 50 mortes por 100 milhões. A França, mesmo com 31,2 armas por 100 habitantes, tem uma taxa média de 25 incidentes e 100 mortes — reflexo de diversos atentados com motivação islâmica ocorridos entre 2015 e 2018.
A análise também incluiu países estáveis com políticas de controle mais rígidas, como Canadá (30,8 armas/100), Austrália (14,5), Suécia (23) e Alemanha (19,6). Todos esses países exibem taxas de terrorismo significativamente baixas, demonstrando que o nível de armamento civil, por si só, não está diretamente relacionado a explosões terroristas.
Um dos dados mais curiosos vem da Índia, com cerca de 6 armas por 100 pessoas. Embora enfrente ataques constantes em regiões como Caxemira, sua taxa média de incidentes por 100 milhões (64) ainda é consideravelmente inferior à dos países em guerra. O mesmo vale para as mortes: cerca de 21 por 100 milhões.
Com todos os dados organizados, foi criado um gráfico de dispersão que relaciona as variáveis: “armas por 100 pessoas” no eixo X, e “incidentes” e “mortes por terrorismo por 100 milhões de habitantes” no eixo Y. Cada país aparece duas vezes, com um ponto azul representando incidentes e um vermelho representando mortes.

O gráfico deixa claro que não existe uma correlação direta entre mais armas e mais terrorismo. Os países com mais armas (como os EUA, Canadá e França) figuram entre os mais seguros no tocante a ataques terroristas. Já os países com menor posse (Nigéria, Afeganistão, Paquistão) aparecem com as maiores taxas de violência extrema.
Esse padrão reforça a tese de que o terrorismo está mais relacionado ao contexto político, religioso, étnico e social de cada país do que à simples disponibilidade de armas de fogo. Em estados falidos ou com governos fracos, a ausência de ordem institucional — e não a presença de armas — parece ser o fator decisivo para a proliferação da violência.
Em conclusão, os dados sugerem que a liberdade de posse de armas civis não implica aumento da violência terrorista. Pelo contrário: em sociedades democráticas com instituições funcionais, uma população armada tende a conviver com baixos índices de terrorismo, enquanto em regimes colapsados ou dominados por conflitos internos, a violência prospera independentemente do nível de armamento civil.
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