
Ignorância não é um acidente: é uma ferramenta
A crise da educação brasileira não é apenas fruto de negligência ou incompetência, mas de um projeto sistemático que visa manter a população em um estado de ignorância funcional. Essa estratégia impede o desenvolvimento de uma consciência crítica e facilita a manipulação das massas.
O Quociente de Inteligência (QI), uma medida padronizada da capacidade cognitiva, tem sido utilizado para avaliar o desempenho intelectual das populações. No Brasil, estudos indicam que o QI médio da população está entre 83 e 87, considerado abaixo da média internacional, que é de 100 (Gazeta do Povo, 2025). Esse índice coloca o país em uma posição preocupante no cenário global, refletindo as deficiências do sistema educacional.
A baixa qualidade da educação básica é evidenciada por avaliações internacionais, como o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), no qual o Brasil tem apresentado desempenho insatisfatório desde 2000 (INEP, 2023). Além disso, dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) revelam que apenas 10% dos estudantes concluem o ensino médio com aprendizado adequado em matemática, e 29% em português (INEP, 2023).
O filósofo Immanuel Kant afirmava: “O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele“. Se a educação é falha, os indivíduos se tornam facilmente manipuláveis e incapazes de exercer plenamente sua cidadania.
Portanto, a ignorância não é um acidente, mas uma ferramenta eficaz de dominação. Manter a população desinformada e sem habilidades cognitivas adequadas garante a perpetuação de estruturas de poder que se beneficiam da passividade e da obediência cega.
Leia também:
- https://veja.abril.com.br/coluna/matheus-leitao/por-que-o-brasil-esta-entre-as-piores-referencias-em-educacao-do-mundo/
- https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/pisa-2022-alunos-brasil-piores-do-mundo-estagnado-desde-2009/
- https://www.cnnbrasil.com.br/educacao/abaixo-da-media-brasil-fica-entre-os-piores-em-ranking-global-de-matematica/

O primeiro gráfico compara o QI médio de cinco países: Japão, Estados Unidos, Malásia, Vietnã e Brasil. O Japão lidera com um QI médio de 106, seguido pelos Estados Unidos (98), Malásia (90) e Vietnã (88,5). O Brasil aparece na última posição com um QI médio estimado entre 85 e 87. Essa pontuação coloca o país significativamente abaixo da média global (100), o que é alarmante considerando os impactos diretos do desenvolvimento cognitivo nas capacidades de aprendizagem, produtividade e tomada de decisão da população. Essa baixa performance pode ser reflexo direto da precariedade educacional crônica e da ausência de políticas eficazes de estímulo intelectual desde a infância.
O segundo gráfico mostra a pontuação média obtida pelo Brasil no exame PISA 2022, aplicado a estudantes de 15 anos, em comparação à média dos países da OCDE. Em matemática, o Brasil alcançou apenas 379 pontos contra os 489 da média da OCDE. Em leitura, foram 410 pontos contra 487; e em ciências, 403 contra 489. A defasagem em todas as áreas evidencia uma crise estrutural na educação básica brasileira. A distância entre o desempenho brasileiro e a média internacional demonstra que os estudantes brasileiros estão entrando na vida adulta com deficiências significativas em habilidades essenciais para a cidadania e o mercado de trabalho do século XXI.
O terceiro gráfico detalha a porcentagem de estudantes brasileiros que ficaram abaixo do nível 2 no PISA 2022, um patamar considerado o mínimo aceitável para a compreensão funcional dos conteúdos. Os números são alarmantes: 73% dos alunos brasileiros não atingiram esse nível em matemática, 50% em leitura e 55% em ciências. Em comparação, a média dos países da OCDE para esses mesmos critérios é de 31%, 26% e 24%, respectivamente. Isso significa que, no Brasil, a maioria dos estudantes simplesmente não possui domínio básico sobre os conteúdos mais fundamentais do currículo escolar. Trata-se de um colapso educacional que contribui diretamente para a estagnação econômica, a alienação política e a fragilidade institucional do país.

Um povo que pensa é um povo difícil de controlar
A educação tem o poder de libertar os indivíduos, tornando-os capazes de questionar, criticar e transformar a realidade. No entanto, um povo educado representa uma ameaça para regimes autoritários e estruturas de poder estabelecidas.
Infelizmente, o sistema educacional brasileiro muitas vezes desencoraja o pensamento crítico e a autonomia intelectual. A ênfase em métodos de ensino tradicionais e a falta de estímulo à reflexão impedem o desenvolvimento de cidadãos conscientes e engajados.
Além disso, a falta de infraestrutura adequada, como a ausência de bibliotecas em grande parte das escolas, limita o acesso dos alunos a diferentes fontes de conhecimento, reforçando a dependência de conteúdos pré-selecionados e, muitas vezes, tendenciosos (Niskier, 2023).
Investir em uma educação de qualidade, fora da esfera pública e sem qualquer interferência política, que promova o pensamento crítico e a autonomia, é essencial para formar uma sociedade capaz de resistir à opressão e de construir um futuro mais justo e democrático.

Educação ideológica: o veneno disfarçado de virtude
A instrumentalização da educação para fins ideológicos é uma prática perigosa que compromete a formação integral dos indivíduos. Quando a escola se torna um espaço de doutrinação, em vez de promover o pensamento crítico, ela limita a capacidade dos alunos de questionar e compreender a complexidade do mundo.
Jean-Jacques Rousseau argumentava que a educação deve desenvolver a razão e a liberdade dos indivíduos, permitindo-lhes viver em sociedade de forma plena. No entanto, quando a educação é utilizada para impor uma visão de mundo única, ela impede o florescimento da autonomia e da diversidade de pensamento.
No contexto brasileiro, a presença de agendas ideológicas nas escolas tem sido motivo de preocupação. A imposição de determinadas narrativas e a censura de perspectivas divergentes comprometem a pluralidade e o debate saudável, essenciais para a formação de cidadãos críticos (Brasil Paralelo, 2024).
Para combater essa tendência, é fundamental promover uma educação que valorize a liberdade de pensamento, o acesso à informação diversificada e o desenvolvimento de habilidades críticas, preparando os indivíduos para participar ativamente da sociedade e resistir a tentativas de manipulação.

Por que isso interessa ao sistema?
A manutenção de uma população desinformada e passiva é conveniente para estruturas de poder que se beneficiam da ausência de questionamento e da obediência cega. Quando os cidadãos não possuem as ferramentas intelectuais para compreender e criticar as decisões políticas e econômicas, tornam-se alvos fáceis de manipulação e exploração.
O filósofo John Locke defendia que a educação deve formar indivíduos racionais e críticos, capazes de participar ativamente da vida em sociedade. No entanto, quando o sistema educacional falha em cumprir esse papel, perpetua-se um ciclo de dominação e desigualdade.
Além disso, a falta de investimento em educação de qualidade contribui para a perpetuação da pobreza e da exclusão social. Estudos indicam que 35% das desigualdades sociais no Brasil podem ser explicadas pela desigualdade no ensino (INEP, 2023).
A filósofa Hannah Arendt alertava para os perigos de uma sociedade composta por indivíduos incapazes de pensar criticamente, afirmando que “o maior perigo é o de que o mundo possa ser habitado por pessoas que não pensam“. Essa falta de pensamento crítico torna a população suscetível à manipulação e ao autoritarismo.
É do interesse de sistemas autoritários manter a população em um estado de ignorância e dependência, impedindo o desenvolvimento de uma sociedade verdadeiramente democrática e justa.
Armas e livros: os dois maiores medos do autoritarismo
Em regimes autoritários, o controle da informação e o desarmamento da população são estratégias comuns para manter o poder. A educação crítica e o direito à autodefesa representam ameaças a esses regimes, pois capacitam os indivíduos a resistir à opressão.
Nelson Mandela afirmava que “a educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo” (Mandela, 1994). Essa afirmação destaca o poder transformador do conhecimento e a importância de garantir o acesso à educação de qualidade para todos.
No entanto, quando a educação é negligenciada ou utilizada como ferramenta de doutrinação, ela deixa de cumprir seu papel emancipador. Além disso, a restrição ao direito de autodefesa impede que os cidadãos protejam suas liberdades e resistam a abusos de poder.
A filósofa Hannah Arendt enfatizava a importância da ação e da responsabilidade individual na construção de uma sociedade justa. Ela argumentava que “a educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo o suficiente para assumirmos a responsabilidade por ele” (Arendt, 1971).
Portanto, garantir o acesso à educação crítica e respeitar o direito à autodefesa são medidas essenciais para fortalecer a democracia e proteger os cidadãos contra a tirania.

Referências
Arendt, H. (1971). A crise na educação. In H. Arendt, Entre o passado e o futuro (pp. 170–193). São Paulo: Perspectiva.
Brasil Paralelo. (2024). A pedagogia e seus inimigos: uma crítica à teoria de Paulo Freire. Recuperado de https://www.brasilparalelo.com.br/colunas/a-pedagogia-e-seus-inimigos-uma-critica-a-teoria-de-paulo-freire
Freire, P. (1996). Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra.
Gazeta do Povo. (2025). QI médio de 85 no Brasil: o que isso revela e como mudar essa realidade. Recuperado de https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/qi-medio-85-brasil/
INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. (2023). Resultados do PISA 2022 – Brasil. Recuperado de https://www.gov.br/inep/pt-br/assuntos/noticias/acoes-internacionais/divulgados-os-resultados-do-pisa-2022
Kant, I. (2004). Reflexões sobre a educação (L. A. de Araújo, Trad.). São Paulo: Centauro. (Trabalho original publicado em 1803)
Locke, J. (2000). Alguns pensamentos sobre a educação (C. Ribeiro, Trad.). São Paulo: Editora UNESP. (Trabalho original publicado em 1693)
Mandela, N. (1994). Long walk to freedom: The autobiography of Nelson Mandela. Boston: Little, Brown and Company.
Niskier, A. (2023). A crítica da educação básica. Recuperado de https://arnaldoniskier.com.br/cronicas/a+critica+da+educacao+basica.html
Rousseau, J.-J. (2004). Emílio, ou Da educação (P. M. de Carvalho, Trad.). São Paulo: Martins Fontes. (Trabalho original publicado em 1762)
Wikipedia. (2024). Educação no Brasil. Recuperado de https://pt.wikipedia.org/wiki/Educa%C3%A7%C3%A3o_no_Brasil