Será mesmo que bandido bom é bandido morto?

Lucas Parrini

Parrini é diretor estadual do Instituto DEFESA no RJ, estudante de criminologia e segurança pública e admirador de assuntos relacionados a combate.

Ditado muito conhecido porém de origem desconhecida. Muitos atribuem a escuderia Le Cocq, que atuava no Rio de Janeiro nos anos 80/90.

Mas o que é um bandido? Por definição, é o indivíduo que age fora da lei. Mas e na prática?

Obviamente esta expressão é serve muito bem para transmitir a notória mensagem sobre o estuprador, o lacrocida, o corrupto, dentre vários outros energúmenos nojentos que atuam no mundo do crime. É excelente num comentário superficial, num debate político, numa argumentação, numa brincadeira, enfim, quando a mensagem é rápida. Mas se por algum motivo precisarmos irmos mais a fundo, com maiores informações, esta expressão se mostra imprecisa. Vamos parar um pouco e refletir um pouco neste sentido:

Será mesmo que aquela criança, em sua inocência dos seus 4 ou 5 anos de idade, rebeldia por não ter ganho o brinquedo da mãe, ou pela simples falta de educação, merece morrer por ter jogado papel de bala no chão? Pois o costume – base de toda hierarquia legislativa – de jogar lixo na lixeira foi quebrado. Uma lei foi violada, logo, a criança por um breve momento se torna uma marginal. Ela deve morrer por isso?

Outro exemplo que é real, já aconteceu – então pode acontecer de novo – e muitas pessoas foram mortas por esta obediência cega a lei, é quando o governo cria uma lei absurda, grotesca, satânica. Se desobedecer, é bandido. Sofrerá. Se obedecer, permitirá que o governo decida o que fazer com sua integridade física e com a vida de sua família. Sofrerá. O amigo leitor conseguirá, sem dúvida, lembrar de alguns exemplos famosos. Fica a pergunta para reforçar a reflexão aqui apresentada: Quem desobedece uma lei absurda e tirana é bandido ou herói?

Quem desobedece uma lei absurda é bandido ou herói?

O exagero dos exemplos foi para ilustrar o perigo de pensar de modo simplista, que acaba colocando pessoas ruins no mesmo saco de pessoas boas, que por descuido, azar ou até mesmo por um desconhecimento inocente, cometeram uma infração. Deve-se ficar atento a diferença entre pessoas que erram por variados motivos, e pessoas que constroem uma carreira criminal. No geral, pessoas que erram merecem segundas chances. Como essa segunda chance será dada foge do escopo deste artigo, mas também é importantíssimo que sua mecânica seja muito bem elaborada para que injustiças não sejam cometidas: chances dadas a quem não merece.

Desta reflexão é natural surgir um ditado parecido, que é “Bandido bom é bandido que não existe”. É o indivíduo que foi educado e tem caráter para não cometer transgressões e se cometer, que seja penalizado ou segregado, ou seja, afastado, tirado, da sociedade. Mas não confunda essa reflexão com pena. Matar também é segregar. No caso de um indivíduo cometer o erro de ameaçar sua vida, defenda-se da maneira necessária. Se isto ocasionar a morte do bandido, cante-mos aquela música “Tô nem aí, tô nem aí!”. O problema agora é do IML.

O crime tem diversas origens, uma delas é a própria lei. Quando se cria uma lei, cria-se algo que é permitido e algo que é proibido. Quanto mais leis, mais crimes. O legislador precisa ter cuidado na hora de criá-las, para que ao invés das regras ajudarem na manutenção da paz e no desenvolvimento social e individual, elas não atrasem a vida dos cidadãos e ajudar a fomentar mais crimes.

6 Replies to “Será mesmo que bandido bom é bandido morto?”

  1. Discordo completamente da crítica feita a frase. Levando-se me conta o conceito de Tipicidade Conglobante, crime é tudo aquilo que a sociedade considera como tal no plano material, apenas.
    Quando uma lei tipifica uma determinada conduta, esta torna-se crime apenas no plano formal, mas é preciso avaliar o que o povo pensa sobre ela. Dito isso, bandido bom é sim bandido morto porque a sociedade jamais verá como bandido aquele que descumpre um dever jurídico imposto por uma norma jurídica tida como injusta.

    1. Oi Enrique!
      Crime não é só o que a sociedade reprova não, rs. Uma de várias gêneses do crime são as próprias leis. Estas deveriam ser um reflexo das condutas aprovadas ou não da sociedade. Muitas vezes, isso não acontece. E parte da sociedade enxerga sim, a quebra de uma lei inusta como algo repulsivo, basta ver o pensamento “dura lex sed lex”.
      Enretanto, acho que a mensagem de que nem tudo é o que parece ficou, no fundo no fundo, entendida.
      Obrigado pela participação! Grande abraço!

      1. Eu discordo do dura lex sed lex.Tem muita lei que não passa de capricho dos políticos que a criaram.Na Arábia Saudita a lei diz que Homossexuais devem ser executados,isto é errado.Aqui no Brasil Lula e outros políticos corruptos criaram o Estatudo do Desarmamento para atender seus projetos loucos de poder e atirar o país no Caos Criminal;Muita gente boa foi presa só por ter uma arma sem a aprovação do Leviatã Estatal ou por ter uma de um calibre acima do que o Leviatã permitia.Na Ditadura Militar Brasileira a lei proibia greves,protestar contra o governo,criticar o “Presidente”,ser Comunista e etc.Tudo isso era errado,eram os caprichos dos Generais e como eles eram a lei,o estado e os donos da moralidade a lei era a vontade deles.

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