Facas de cabo oco vs Facas full tang

Cabo oco: uns amam, outros odeiam.

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A idéia de um compartimento na faca é fantástica, isso poupa muito a memória do vivente para aqueles pequenos itens de sobrevivência, porém o preço a se pagar pelo benefício é caro demais para alguns.

Nesta postagem vamos falar sobre os aspectos que pesam pra cada lado da balança.

De cara comunico, eu adoro as cabo oco.

“Mas que bastardo idiota gosta disso?” Eu, eu gosto. E gosto porque gosto e mais nada.

Gosto porque sou um cara de 40 e vi o Rambo usar a faca, eu era escoteiro na época e tinha uma Tramontina sport de 10 cm.

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Se você assistir o filme com outros olhos, verá que John Rambo não faz nada demais com a faca dele, nada que uma porcaria de faca qualquer não faria fácil. Logo posso dizer que, o uso de “faca de sobrevivência” no filme não foi nada forçado. Eu mesmo já usei vários recursos de minha faca cabo oco em muitas situações de treino e acampamentos sem nenhum problema.

Uma faca monobloco full tang, é de longe mais forte e acumula algumas funções, como alavanca por exemplo e uma maior tolerância ao batoning. Se nada disso tivesse sido inventado, ainda assim seriam mais resistentes.

Muitos estudantes de sobrevivência sequer toleram soldas no cabo de suas facas, pra estes as facas de cabo oco são quase criminosas.

Mãozinha leve

Isso é coisa de Old School total, da época que o chefe escoteiro ensinava o moleque no uso da faca lá pelos 80´s. O garoto já usava a ferramenta preocupado, com medo de quebrar e tomar um ralo do pai, pois as Tramontinas eram caras mesmo. Quem acampou por anos com uma sport, leva a vida feliz com uma Commander. O fiapo de aço que faz a tang destas facas e tão ou mais frágil que o conjunto de qualquer faca de cabo oco.

Mas a regra é clara, se uma faca de cabo oco dura muito na sua mão, uma full tang monobloco vai ser eterna!

Sem querer incorrer em crime, vou dizer com certeza que, se você acha dificil escolher uma faca fulltang de sobrevivência, experimenta tentar descobrir uma boa faca de cabo oco. hahaha É uma luta épica.

Além de decidir pelo aço, perfil de corte e modelo, você tem de encarar a aventura desconhecida e misteriosa dos engates e apetrechos muitas vezes inúteis como a serra que não funciona.

Acho que inquestionável é somente a estratégia de poder manter itens na faca, o que muitos fazem usando a bainha das full tang.

Mas existem facas de cabo oco úteis?

Cara existem. E são caras. Você não vai ver usuários das Aitor choramingando pelos cantos ou colocando suas Jungle King ou Commando na lixeira, o mesmo vale para a bushmam da cold steel, Scherade, Kabar e facas cabo oco feitas por encomenda.

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Nestas facas tudo funciona, a serra é animal, o aço é impecável, a bainha é altamente tecnológica e com recursos funcionais e o engate foi pensado para partir a lâmina antes de romper ou pegar jogo.

Agora brutalidade sem fim é quando o projetista apela e simplesmente forja a peça em uma única barra de aço, sim, existem pessoas sem dó de apelar.

Na boa, eu ví uma destas facas, de um amigo, foi feita em um cano de garfo dianteiro de moto e usa uma rolha pra tapar o furo. é tão brutal, mas tão brutal que faz a maioria das minhas clássicas facas parecerem palitos de dente ou peixeiras de feira.

Um parâmetro curioso.

Cada vez mais eu acredito que facas são as coisas mais pessoais que foram inventadas. Você vai achar usuário de tudo que é forma.

Eu particularmente não bato em faca. Vez ou outra faço para demonstrar técnicas de corte em vídeos ou para alunos, mas no mundo real nunca fiz isso. Quando saio da porta com minha faca ela faz parte de mim e eu a preservo com todas as forças, peças indestrutíveis como a NYX ou a Militar King cumprem sua função que é talhar as coisas com peso e massa bruta, outras facas menos poderosas que eu uso nunca tiveram pouca presença em minha prática, é o caso da Imbel, famosa ou não, aço bom ou não ela tem um rabinho de rato de 8 mm de tang e é quase que a minha peça exclusiva de uso fora dos treinamentos.

A Defender Xtreme é um caso do tipo, eu que tenho “mão leve” me esbaldo com esta facona de cabo oco que tem uma capacidade de corte absurdo.

Bom, para continuar e fechar meu ponto de vista, considere que, este autor que vos escreve NUNCA quebrou um facão Tramontina em todos estes anos de uso, e não é porque a tralha é indestrutível.

É o detalhe que pesa.

Na sobrevivência qualquer traço de vantagem vale ouro. Um anzol, fósforo, um pedacinho de paracord ou um preservativo pra água. Ferrado você se agarra a qualquer fio de recursos e a mais ínfima besteira vale ouro.

apelo

Nesta perspectiva as cabo oco se criaram até hoje. Aqueles 2 ou 3 fósforos e os anzóis, um band aid e outras quinquilharias úteis, o reflexo foi a implantação de bainhas cada vez mais elaboradas para facas full tang, kits específicos para facas são comuns (e opções inteligentes) já que a faca é a primeira coisa que o operador pega pra sair.

Se eu concordo com os objetos que vem na faca de cabo oco? Não, não mesmo. Troco os 3 fósforos por 1 pederneira, o band aid por um preservativo, os botões por clorin, os anzóis por anzóis menores e as cordinhas vagabundas por paracord. Mas o que eu não troco mesmo são as bainhas. Me desculpem os artistas do couro, mas o polímero e o kylex abrem um leque totalmente imbatível em resistência,  peso e funcionalidade.

Uma vez eu tomei um tombo memorável em um barranco, óbvio caí por cima da faca que estava na cintura. Eu não me machuquei seriamente por intervenção divina, porque a lâmina abriu o couro igual papel com a força da batida, desde então me tornei um ser chato neste sentido, e ao ver uma faca pela primeira vez me lembro da ponta da bowiezinha se projetando de lado fora da bainha cortada.

A Defender que nada mais é que uma ótima cópia xingling da Aitor Commando, fora seu questionamento quanto faca, possui uma bainha absurdamente forte, rígida a ponto de manter um sistema de afiação no dorso e o melhor, possui um compartimento estanque extremamente funcional para o trato de iscas e outros itens que der na telha.

É uma bainha absurdamente funcional, com espaço para encordamento, sistema de travas seguro, espaço para faca reserva… ou seja, pouca coisa que outras facas deste modelo cabo oco não disponham.

Mas “E SE”, por alguma sorte do destino, uma faca forte, full tang tivesse todos estes benefícios e unisse os dois pontos de vista?

Pois é, colocar uma faca monobloco na bainha de uma cabo oco é algo como juntar os benefícios de 2 mundos.

Porém, para o sobrevivente há uma regra de ouro: É preciso pensar fora da caixa! Por séculos o ser humano fez uso de simples lascas de pedra para sobreviver, a recente evolução trouxe boas e más interpretações desta importante ferramenta, e é possível encontrar peças ótimas e absurdas porcarias tanto em facas de cabo oco quanto nas monobloco. Cabe ao operador a missão de adaptar, avaliar com cuidado a ferramenta e seguir um uso coerente do que tem nas mãos.

A regra do preparo prévio dita que escolha bem uma faca, porém, no auge do envolvimento centenas de milhares de eventos podem ocorrer e sua poderosa ferramenta pode não estar com você, restando uma peça diferente e geralmente de menor qualidade ou de utilização distinta.

Da mesma forma que você opera um treino de sobrevivência extrema com uma ferramenta brutal, deveria adestrar-se no mesmo cenário adaptando-se a uma peça mais frágil, isso é estar preparado, com uma peça simples, com corte ruim, aço vagabundo ou delicada demais você aprende a pensar fora da caixa e percebe que qualquer faca é faca e tem muita serventia.

Polêmico? Sim, claro que é, porque gosto é gosto e facas são como peitos, cada um curte de um jeito, mas é legal ver as opiniões de vocês sobre o tema nos comentários.

Abraços!

17 Replies to “Facas de cabo oco vs Facas full tang”

  1. Agora eu li, muito bom! Ficou faltando colocar o autor do texto lá em cima (Pela coluna, é o Batata, né?)

    A descrição “faca é faca” veio a minha mente enquanto eu procurava uma faca artesanal, que fosse eficiente para porte (defesa) e que ao mesmo tempo, enchesse meus olhos de orgulho com sua beleza.

    Desanimei dessa idéia pela dificuldade em encontrar cuteleiros para fazer o trabalho, ou não fazem do jeito que quero, ou insistem em dizer que determinado detalhe ou o formato não é legal. Eu, como cliente, aceito sugestões, mas até certo ponto. Se eu decido que quero o produto X, não tente me empurrar Y.

    Agora uso uma faca do paraguai (xingling para os mais novos) cujo características que me fizeram escolher esta foi a empunhadura quase perfeita pra minha mão, peso e conforto no porte. Custou 45,00 a faquinha, rs. Não faço a menor idéia se é monobloco ou cabo oco.

    Só falta aprender a amolar a faca, o que me faz sugerir até este assunto para um futuro artigo.

    Obrigado pelo texto e parabéns!
    Abraço!

    1. Lucas, eu acabei de ler o artigo e amei também. Eu te indico o curso free de afiação de facas na net(eu esqueci a franquia, um fabricante de facas para churrasco) ou assista ao canal do Takuya Takano no youtube que ele tem alguns vídeos sobre o assunto e eu aprendi e aprimorei muito meu estilo com ele.
      Hoje eu consigo fio de navalha.
      Um abraço.

  2. Facas que considero excepcionais são as da linha Arbolito, da Boker. Além de lindas, são bem dimensionadas e muito robustas. Infelizmente, não são baratas, mas é faca pra vida toda.

  3. Eu não gosto de empunhaduras ocas, e não é porque são “ocas”, pois as Chris Reeve são integrais, usinadas em uma única peça (foto no artigo), mas porque a empunhadura são cilíndricas/simétricas (com raras exceções que possuem digi-divisões). Empunhaduras assim são ruins para serem usadas em locais escuros ou dentro d’água, quando deve-se sentir só com o tato em que posição está a lâmina. No EB usei uma Imbel com cabo de madeira cilíndrica, e num “ralo” à noite na serra do mar, tive que, com a outra mão, conferir qual a posição em que estava a lâmina, e para meu azar, o fio estava pra cima, e cortei de leve a mão. Ao golpear fortemente, essas empunhaduras “rodam”, fazendo com que se bata a lâmina/fio em ângulo, o que pode até quebrá-la. O ideal, na minha opinião, é a faca do Crawford (foto no artigo) , que é integral mas por meios de parafusos, tira-se as talas, e há um vazado para guarda de itens.

  4. Olá! A maioria das facas de cabo oco realmente não são confiaveis, a exceção é esta da foto, toda forjada, ou algo que não valha menos que 500 doletas. Quando era criança (rsrs) comprei algumas de cabo oco, aparentemente boas, mas o tubo em geral é preso por um parafusinho que nem sei como se prende na lamina, se aguenta ou não esse é o ponto,não da pra saber. Hoje tenho uma da united cutlery COMMANDER. aço aus-6, a fixação do cabo parece bem robusta o tang entra no cabo de duraluminio uns 30mmm e é preso por um pino elástico transpassante. Mas como vc disse, pra quem andava com uma sport da tramontina (como eu tmb) ta valendo qq coisa rsrs.

    1. Gente, eu durante lindos 20 anos usei pra tudo(>parte pesca maritima), campping, caça, pradaria e porte uma Tramontina Amazonas com cabo emborrachado(?), sei lá. E eu cortei galhos, carnes, mergulhei no mar, rios, cachoeiras, etc, bati nas costas da lâmina com martelo numa necessidade, e só a perdi porque ha seis anos me roubaram ela. Eu acho que a gente se adapta ao nosso material e, na época, eu nem sabia amolar direito.
      pagava pra amolar numa cutelaria em N. Iguaçu, Rio de Janeiro.
      Hoje eu tenho três facas, a mais nova(uma xingu) ainda não testei, mas ja a afiei e estou esperando acampar para testes de resistencia e qualidade.

  5. Devia olhar algumas da marca Saico, aqui no rs, já tratei mal, em acampamento, alguns galhos e surpreedeu, é so passar na pedra para gadanho, e ela está com um novo fio, fica a dica.

  6. Qualquer um que tenha vivido nos anos 80 passou por esse modismo.

    Hoje, só preservei uma Commander I da Tramontina (tive também uma inmitação taiwanesa da Aitor Jungle King II e uma Commander III – cópia da Marto Explora Survival espanhola), que mantenho na casa de veraneio. Os band-aids e a agulha de costura já me foram úteis, quando alguém se feriu ou algo se rasgou e ninguém havia lembrado de levar material de costura ou um kit básico de primeiros socorros.

    Já aconteceu, também, de os fósforos da casa terem mofado com a umidade, e os únicos palitos secos da casa serem os que estavam guardados no cabo oco da faca (a vedação da tampa foi reforçada com fita veda-rosca). Mas confesso que os anzois e a chumbada eu nunca usei.

    O cabo oco, quando se encaixa nele uma haste de bambu, também ajuda a colher frutas e, nos tempos da TV analógica, tirou muita linha de pipa da antena.

    Realmente, não foram projetadas para suportar grandes esforços, mas são um bom quebra-galho até mesmo em situações domésticas. Não usaria uma faca dessas em serviço policial, onde, por vezes, a lâmina pode ser usada até para substituir um pé de cabra em um arrombamento.

  7. Gostei muito destes produtos, estou montando aqui em Taquarussu-Ms, gostaria de saber se tem como voces me passar promoções de faca e canivetes e outras novidades obrigado.

  8. Muito obrigado pela matéria. Eu convivi durante 20(talvez mais) anos com uma Tramontina Amazonas e a usava pra tudo, atépancada eu dei na bichinha e ela nunca me deixou na mão. Como nao sabia amolar, pagava numa cutelaria na Baixada Fluminense, RJ.
    Hoje eu tenho 3 facas táticas e quero completar com uma oca.
    mas comprei uma xingu e vou testar num acampamento pra ver se presta. Já afiei ela e pegou ótimo fio. vamos ver a resistencia.rsrsrs Abraço

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